Arquivo para 1 de dezembro de 2008

01
dez
08

Destaque no Festival de Brasília, “Siri-ará” revela as origens simbólicas do povo cearense

Assisti com assombro e encantamento o mais novo filme
do cineasta cearense Rosemberg Cariry. Não tenho dúvida
de que ele é um marco na sua trajetória, porque não se trata
apenas de mais uma leitura do significado histórico e cultural
deste pedaço de litoral/sertão/além-mar que povoa o seu/nosso
imaginário. Mostra em profundidade e densidade simbólica que
o Ceará, mesmo que lute para se esquecer disso, resulta de
encontros desencontrados de povos e projetos civilizacionais,
envoltos em camadas e camadas de poeira e vento, que
ressurgem aqui e ali aos pedaços, feito assombração,
Trata-se de uma história de reconstrução e articulação
narrativadas mais difíceis.
.
A ideia de narrar essa leitura do passado por meio do
protagonismo implícito no Reisado e Banda de Pífanos, como
aquilo que permaneceu mais visível e manifesto até hoje da
memória de batalhas entre portugueses e nativos, me parece
magnífica porque é isso mesmo que tais ditas“manifestações
culturais” representam e dá a elas tanta significação. Um filme
de época não falaria tanto!
.
Pêro Coelho perambula com a sua família e tropa pelo sertanejo
Eldorado, tendo como cenário as montanhas de pedra do Quixadá.
O cenário é impressionante. Resulta numa paisagem onde cabem
perfeitamente devaneios e sonhos, martírios e desejos crus de uns
e outros. As falas delirantes e quase separadas dos protagonistas,
como se a cada um fosse dado falar a si/de si mesmo, ignorando
uns aos outros, em línguas distintas e ideais contrastantes;
os ângulos dos rostos, olhares e silêncios dos ditos indígenas,
parecem recortados nas próprias pedras, feitos de barro
até na cor dasroupas, imitando a cor da terra, da areia que anda
a tudo cobrir. Há mágoase ressentimentos, coisas doridas no peito
e na lembrança.O horizonte aberto, a amplitude das paisagens
alude um espaço sem fim, a um ponto de chegada apenas
imaginário.
.
Todos sofrem, matam, machucam, se penitenciam e perguntam
sobre o sentido da busca dessa felicidade terrena.
A índia-menina violentada é a nossa ancestral comum que estaria
na raiz dessa dúvida e mal contada história colonial sobre a nossa
origem como povo mestiço. O professor de Paris volta para se
entender, a índia velha que lhe guia o caminho me parece
a representação finamente alegórica dessa memória torturada
e silenciada em busca da tal identidade nunca definida, nunca
alcançada.
.
As prostitutas vistas pelo caminho, na viagem inversa ao
sentidodo relógio,saindo de umamoderna Fortaleza de concreto
e seguindo o roteiro de peregrinação ambiciosa do Colonizador,
são o sinal dabusca eterna do gozo carnal masculino e do ganho/
enriquecimento ilícito que custa a vida, a juventude, a beleza delas,
cinco séculos vendidas, a troco de umas moedinhas de ouro, que
andam a catar,misturadas com ossadas humanas que simbolizama
matança dos antepassados.
.
A morte está belamente representada, em máscara, vestimenta
e diálogos,a discutir filosoficamente o passado e a existência com
o professor. A sua aparição traz sempre cenas e reflexões valiosas,
difíceis, torturantes. A ironia da fala dela, a sedução que exerce
sobre ele, sobre nós, me pareceu um contraponto dessa luta entre
presente-passado e presente-futuro. São cenas carregadas
de magia e encanto.
.
No desfecho da narrativa, a cena da cerimônia antropofágica
é um ritual impactante, inesperado, uma forma delirante de
interpretar o sentidodo passado e do que somos culturalmente.
Um delírio que resulta de uma pergunta existencial de fim de vida,
do professor que aceitaa proposta da Morte, por não encontrar
resposta que não o turbilhão das imagens mnemônicase/ou
oníricas, que chegam e se esvaemem ritmo histórico e alucinatório.
,
Nas cenas finais, volta a aparição de Fortaleza. A cidade, vista da
Praia Mansa, surge assustadoramente bela e absurda, os prédios
estão dispostos em ângulo que os revelam como se brotassem
irreais do mar e nos perguntassem se era para isto tanto sangue
derramado. Cria-se o nexo entre o litoral e o sertão,
o Pêro Coelho e a mulher sem coisa alguma nas mãos, nem
riqueza, nem vitória. Cordões cortados, ficam-lhes os filhos
mortos pelo sertão.Vivo ficara apenas o menino, o filho da índia
violentada. Nas palavras de Cioran,“agora só resta o seu filho
bastardo, herdeiro desse império de dor”.
.
Antes, a cena da flor branca caída das mãos da menina-índia
-violentada, mãe de todos nós, o contraste entre ela e o fio
vermelho do sangue de sua defloração emociona, faz ver, a quem
sabe ler a nossa dolorosa história colonial, a pedra angular desta
trágica construção. Feito encarnação do colonizador, mergulhao
casal no mar,como sinal da derrota, perdição e tentativa de retorno
para o continente ou nada de onde vieram. As coroas do rei e da
rainha são apanhadas da areia e postas na cabeça por brincantes
a passar pela praia, como se andassem a buscar inspiração para
as suas festas de Reisado. Faz-se o nexo entre cultura popular
e história colonial.
.
Ainda não vi tudo. “Siri-ará” é um filme feito em linguagem
alegórica, sugere outras leituras e deve ser visto mais vezes.
A sua feitura artística apresenta componentes de teatro, dança
e artes plásticas. Considero ser este um filme de maturidade.
Uma lança fincada bem no coração, o dividindo ao meio. Evoca
a lembrança de nossa ancestralidade e faz emergir uma elaboração
mais complexa do que somos.Trata-se de um convite à rememoração
mesmo que ela doa. Como diz o próprio diretor, está ali uma luta
entre“a embriaguez da vida e o descanso da morte, quando
concluímos que no lugar de verdades só há imagens alegóricas
do que fomos/somos”. Ficam a ressoar no deserto as palavras
delirantes de Cioran, a se dizer“o herege, o mestiço, o filho da puta,
o ninguém ”que “para sobreviver se reinventa”.-
.
———MARIA JURACI MAIA CAVALCANTE
Especial para o Caderno 3Doutora em Ciências Sociais
pela Universidade de Oldenburg, Alemanha, e professora
da Universidade Federal do Ceará
01
dez
08

Ah se não fosse assim – Por: Nijair Pinto

.:.
Sofro…

O horizonte que me banha a alma trêmula e incrédula não tem mais o mesmo brilho. As pessoas já não se cumprimentam como antes, à época dos nossos pais. E olhe que não sou tão velho assim. Prova disso é que meus cabelos brancos, embora teimosamente, tenham surgido somente agora, desarmonizando o quase contraste do também quase uníssono breu que configurava minha cobertura capilar tão mutante: aloirada na infância, castanha na adolescência, preta na idade madura e agora, tão apenas agora, com pingos esbranquiçados do pouco que restou e que não se foi nas mãos molhadas do tempo – é o início de uma nova etapa onde o que restará, além das lembranças, talvez seja o que construí como efêmero homem vivente neste mundo de imperfeições concretas e de uma abstração perfeita da irrealidade do que teimamos em achar que somos.

Não sei quem sou. Não sei o que fui. Nem sei se serei daqui a instantes… E agora o que sou? Sou vivente estando errante? Sou fervente e me faço ultrajante? Sou latente ou um lobo distante e ofegante? Sou meu próprio mal ou um casual e benigno suspiro que surge da minha premente necessidade de existir? Existir com ou sem você, isso é essencial! Não sejamos mesquinhos e egoístas crendo ou fazendo crer que não é assim.

Sou constante e me faço ou me fiz de mutante talvez para tentar merecer o que tento deixar de ser sem fenecer. Sou o que querem que eu seja, mas não sei se sou o que devo ser ou se o ser que sou causa em você o bem que deveria, somente a mim, comover. Contento-me com o seu pouco, pois aos poucos eu me torno o seu senhor sem você se aperceber. Afinal, somos criaturas ou meros cataclismos das criações de nós mesmos? Somos figuras e tipos criados ou nossos próprios dissabores inventivos?

À noite, onde outrora sol havia, cega-me! As fontes límpidas que postergavam o asqueroso produto final das ações humanas, das nossas desmedidas agressões, esgotam-se. Lodosas paisagens castigam minha visão; as pesarosas visões são grudentas e, por repetidas vezes, faço digressões. Minhas ponderações introspectivas são tão cruas e nuas quanto me sinto agora: um desnudo homem que se alija de si mesmo, sorrateiramente, tentando resgatar um futuro previsível e forte que não nos dá alternativa se não a morte.

Somos morto-vivos e vivemos uma nova vida a cada morte. Estamos entregues à nossa própria sorte por um consorte invisível que, por mero capricho, não nos quis bicho, mas homens de porte! De porte e de posse… Posse de desvalores que nos causam horrores tão inimagináveis e desmedidos quanto nossa cegueira racional. Afinal, somos lobos ou não somos maus? Somos a origem da desordem ou nosso próprio caos?

Fica a ponderação inconsistente, pois a minha vida é uma vida ardente que se faz não por meros e potenciais caprichos decorrentes do meu medo de viver. Minha vida se faz a cada dia e no meu amanhecer não existem falhas, não existem navalhas, não existem canalhas e não existem muralhas… Na minha vida existe superação, existe animação, existe dedicação e existe ação.

E se as falhas me limitam as superações, devo reinventar o que chamamos de erro; se as navalhas me ferem o ânimo, ceifando-me o mínimo da vontade de vencer, reinvento o processo de coagulação e navego no corte das doloridas máculas da minha própria carne; se os canalhas pensam que estou inerte e que jamais me levantarei contra eles, esquecem-se de que dediquei minha vida inteira ao mais nobre dos valores, lutando sempre, apesar de silenciosamente, contra tudo que se ergue através do mal; se as muralhas que a vida nos impõe parecem fortes e intransponíveis, eu as desafio, pois a ação dos ventos – e sou um sopro de vida – revela a todos, através da história, que a sucessão de pequenos fatos é quem define o verdadeiro vencedor.

Nijair Araújo Pinto
.

01
dez
08

Hoje é o dia Mundial de luta contra a AIDS!


Aids: todos contra ela. Cresce o número de mulheres vítimas da doença. Embora no Brasil a epidemia de Aids seja considerada estável, ainda são grandes os números de vítimas da doença.

Segundo o Boletim Epidemiológico Aids/DST 2008, entre 1980 e 2007 foram registrados mais de 500 mil casos no país e 200 mil óbitos. Neste ano, em que é realizado o 20° Dia Mundial da Luta Contra a Aids, o Ministério da Saúde lança campanha com o foco em homens com mais de 50 anos e já prepara uma campanha voltada especialmente para o sexo feminino. Os números impressionam: a taxa de incidência para cada 100 mil mulheres saltou de 9,3, em 1996, para 14,2, em 2005.Não há mais um grupo restrito de pessoas ou de mulheres que podem vir a ser contaminadas: a Aids as atinge em qualquer idade – inclusive vêm aumentando os casos de idosas portadoras da doença. Por que isso vem acontecendo? Se antes se falava em grupos de risco, como usuários de drogas injetáveis, homossexuais e profissionais do sexo, hoje não se pode ao menos definir um perfil dos portadores da doença. É o que argumenta Carmen Lent, coordenadora do Banco de Horas, entidade de apoio a portadores de HIV/Aids no Rio de Janeiro. “Não existe mais um perfil comum às pessoas com Aids. Atualmente, sabemos que qualquer pessoa sexualmente ativa pode ser infectada pelo HIV. As pessoas não-testadas, casadas ou não, não são necessariamente soronegativas, mas sim sorointerrogativas”, afirma.Hoje, duzentas mil pessoas contaminadas pelo vírus da aids no Brasil fazem tratamento de graça na rede pública de saúde. Isso representa uma cobertura de noventa e cinco por cento dos brasileiros que desenvolveram a doença. Combater a aids é um dos Objetivos do Milênio definidos pela Organização das Nações Unidas, a ONU. A ampliação da cobertura do tratamento dos soropositivos no País foi uma das conquistas do Sistema Único de Saúde nos últimos anos. O diretor do Departamento de Atenção Especializada do Ministério da Saúde, Adson França, destaca que o Brasil é reconhecido por outros Países pela política de acesso universal ao tratamento da aids.”O Brasil é um dos pioneiros e, hoje, é uma referência internacional para o enfrentamento da aids. O Brasil pensou na prevenção, na promoção da saúde e no tratamento. O Brasil já desenvolve drogas, e com parcerias internacionais trazendo matéria-prima, já garante e parece que é o único país do mundo que distribui gratuitamente toda e qualquer medicação necessária e de ponta para os portadores do HIV.”

Por: Mônica Araripe

01
dez
08

La Chanson Française

A música popular da primeira metade do século XX, quando a indústria fonográfica se torna universal, tem um dos centros na canção da Europa Ocidental. Especialmente a Italiana, Francesa e Alemã. Por isso mesmo é que no princípio, antes dos anos 30, esta canção tinha uma cor rural. Os alemães inventaram o piano portátil, o acordeom e estes países fronteiriços e sujeitos ao vai e vem em impérios sucessivos tinham uma grande interpenetração de sons e canções.

A canção popular francesa é belíssima. Mesmo antes da primeira guerra mundial o país inteiro já cantava a mesma canção. A canção da Belle Epoque se afastara da música erudita e já estava no gosto das cidades. A musette bailava nas praças. De todos os rincões daquele imenso retalho, que é a identidade francesa, emergiam canções nacionais. E não esqueçamos o papel do cinema na canção destes três países, especialmente da França e Alemanha. O cinema falado é uma unidade estética inseparável e a música um elemento central da narrativa.

Mas a França era uma das sedes fundadores da atual civilização ocidental. O país era aberto ao mundo e foi, na Europa, um dos primeiros a receber a influência da cultura norte-americana e até do tango argentino e da canção mexicana. Quando os nazistas invadem a frança esta canção fica subterrânea, mas explode com imensa força entre junho de 1944 e maio de 1945 com uma força que ninguém imaginava. O que veio da canção francesa dos anos 50 a 80 foi praticamente a explosão deste momento. Toute les chansons de la bibération.

E o mundo se rende a Maurice Chevalier, Tino Rossi, Ray Ventura, Charles Trenet, Raymond Legrand, Django Reinhardt, Jean Sablon entre tantos. Não se imagina o charme enamorado do que se dançar ao som de Charles Trenet cantando “que reste t´il de nous amour” e o belíssimo refrão: Que reste-t-il de nous deux/De tous ces rêves dans tes yeux / Je ne sais plus, / Dis moi si tout n’est pas perdu / J’ai besoin de te parler / De ma vie, de tes pensées / Tout n’est vraiment plus comme avant. Isso considerando que é do mesmo Charles Trenet a canção que a partir do anos 50 praticamente se torna aquela canção francesa: LA MER.

O vigor explode na voz de uma mulher apaixonada, no limite da vida trágica, uma verdadeira estrela mundial do século XX: Edith Piaf. Quem não tem uma tarde cor de rosa com La Vie en Rose e a verdade destes amores tão intensos como L´Hymme a La Amour. E neste mesmo filão de uma geração, a outra veio, na segunda metade do século, com intérpretes maravilhosas igual a François Hardy, Mireille Mathieu, Nana Mouskhouri e uma lista que ainda hoje revela a canção francesa.

Os homens de La Libération resultaram em gerações seguintes de grandes talentos, passando por Charles Aznavour, , Yves Montand, Sacha Distel, Gilbert Becaud (arrasou nos idos dos anos 60 com L´important c´est la Rose) Adamo, Christophe, Henri Salvador (que se encontra com o Brasil no início da Bossa Nova), Jacques Brel entre outros. O pessoal da música instrumental é especial, como Michel Legrand, Georges Zamphir e o atual Manu Chao.

Seguramente esta segunda-feira é um dia para a canção francesa.

01
dez
08

O Velho Olegário está ficando Louco ! Depois de velho quer vender a "NOSSA" herança !

.

“O Homem que nesta terra miserável vive entre feras, sente inevitável necessidade de também ser fera” Augusto dos Anjos.

Quantas vezes você já deve ter ouvido essa frase…
“Nosso pai está ficando louco! Agora depois de velho, quer vender “NOSSO” patrimônio…” Na verdade, esse problema acontece em muitas famílias Brasileiras. Deixando de lado todos os métodos de escrita elegante e truques literários que eu ainda poderia ter guardado ao longo dos anos, de tal forma que esse artigo seria melhor escrito por pessoas mais aptas, como o nosso querido Dr. José Flávio Vieira… mas enfim, terão de se contentar com minha rudimentar forma de escrita. O importante aqui é a mensagem que pretendo passar.

Seu Olegário

Seu Olegário, ex-bancário experiente, desde cedo lhe ensinaram que nesta terra dura, só se consegue as coisas com muito esforço e sacrifício. Filho de pais pobres, agricultores, sem condições de enviá-lo às melhores escolas, o moleque Olegário, conhecido na roda de amigos pelo singelo apelido de “Gagá”, pois sempre foi motivo de risos e piadas, era um desses rapazinhos tímidos, tipicos dessa gente do interior. Sem vintém, Olegário não conseguia as garotas que tanto amava em pensamento. Acalentava porém um defeito que depois se tornou uma obstinação: tinha mania de se apaixonar pela “chefe da torcida”, aprendera a apreciar desde cedo os melhores pratos, as garotas mais belas, uma boa roupa, embora não tivesse a mínima condição de possuí-los. Da vida dura de agricultor, entre um prato de arroz com feijão e outro prato de feijão com arroz, Olegário começou a ter idéias de grandeza. Pensou consigo: “Irei para a cidade grande, estudarei e passarei num concurso para o Banco do Brasil”… ( numa época em que ser bancário do banco do Brasil era alguma coisa, render-lhe-ia prestígio, e um bom dinheiro ).

E assim o fêz. Estudou por conta própria em cursos por correspondência, depois arrumou uns empreguinhos mixurucas, e já tendo algum conhecimento, Olegário se lançou na sua missão de ser um bancário. E tão grande era a sua força de vontade, que ele passou logo de cara. Alguns até se perguntaram como aquele rapazinho vindo lá das “brenhas”, conseguiu essa proeza, mas Olegário seguia seu curso incólume. Agora, já de gravatinha no banco, pensava nas grandes coisas que as pessoas normais de gravatinha e pasta na mão, normalmente pensam: Em construir uma família, dar uma satisfação à sociedade, ser um homem de bem, cumpridor dos deveres, ser um bom pai, um bom amigo, um bom marido, um cidadão de bem, aquele que planta um livro, escreve uma árvore e constrói uma família regada a todo o conforto que o diuturno trabalho lhe proporcionaria. Tinha porém uma nova filosofia: Não queria que seus amados filhos sofressem das duras agruras porque passara na mocidade.

Na realidade, Olegário, este devoto pai de família trabalharia como uma “Mula de carga”, talvez por mais de 40 anos construindo um patrimônio, na esperança de ao final de uma vida cansativa, podusse realizar enfim, aqueles sonhos da juventude, quando sendo um jovem sonhador e besta nas horas de folga na enxada, em pleno sol de Novembro, pensara um dia em conhecer Paris, possuir uma residência num bairro elegante da cidade grande, comprar um carro novo, talvez quem sabe, casar-se com uma esposa carinhosa e ter filhos saudáveis e inteligentes…

…Acontece que a vida é um ciclo estranho!

O mundo dá muitas voltas, e após nosso herói trabalhar por mais de 40 anos, ou mesmo a vida inteira construindo o seu “futuro que nunca chegava”, fazendo hora extra pra sustentar o “Luiz cláudio” agora na faculdade, para formar o “Henrique” em engenharia de Produção, ou mesmo a “Melina”, garota sempre estravagante que desejava ser marchand em Nova York, vai este homem, outrora moço, sonhador, a encarar uma dura realidade que a maioria dos idosos do Brasil já estão acostumados:

Os maus-tratos por parte da família. A velhice em si, o afastou os amigos, muitos já residindo no cemitério, e Olegário finalmente começa a ver que todo aquele sonho de môço, de um dia conhecer Paris, de viajar pelo mundo, de ter uma velhice calma, está indo por água abaixo. Vê por exemplo, que o filho mais velho “Luiz Cláudio” após formar-se em medicina pela USP, mal o vê durante 3 anos. Apenas um cartão de natal barato chegou recentemente ao velho como prova de “Alta” estima e consideração. Vê, por exemplo, seu filho predileto “Henrique” após todo o sofrimento que o pai teve em bancar a sua universidade, mostrar-se um grande ingrato. Depois de formado, nem mais dá as caras lá pelo velho apartamento do Olegário, comprado em suaves prestações pelo antigo BNH, e já não aparece nem para tomar um café. Vê a sua amada filha Melina, tão bem cuidada na adolescência, frequentadora dos mais caros colégios da capital, hoje mulher distante, lá em Nova York, isolada, e quando muito telefona, ainda é para lhe pedir algum dinheiro extra para um projeto mirabolante do tipo “Agora vai, Pai! é o sonho da minha vida”. Lá vai o velho Olegário a gastar as suas economias ainda com filhos…

Até que um dia, chegados os seus mirabolantes 65 anos muito mau vividos, Olegário, no auge da mesmice de uma vida em que passou 30 anos com a bunda pregada na cadeira do banco, resolve ter um infarto sem avisar aos amigos. Suas artérias já não são mais as mesmas afinal. Sua pele enrugada denuncia os muitos maus tratos que a vida lhe ofereceu. Seu reumatismo crônico e aquelas terríveis dores nas costas, devido a uma inconveniente hérnia de disco, o privam de dormir bem, passando a noite a rolar na cama, mudando de posição, para o “desconforto” da sua mulher que sempre reclama. Sua visão já é turva, seus ouvidos já não escutam muito bem, e aquele velho “tínitus” infernal adquirido do barulho no banco, lhe priva das boas audições das suas músicas prediletas.

O velho Olegário então, no auge deste conjunto de coisas, resolve tomar uma decisão radical. Pensa consigo mesmo: “Meus filhos já estão crescidos. Todos já estão casados, já os formei, forneci a cada um meios de sobrevivência própria, já construíram até suas famílias. O que devo fazer, agora que a velhice me atormenta ? Já sei! Vou aproveitar os últimos dias que me restam e desfrutar do trabalho de uma vida, em que sustentei essa cambada de filhos ingratos, que como passarinhos, só precisaram de mim com o biquinho aberto para receber. Vou vender a casa da Praia, que só me dá prejuízo na manutenção e quase nunca se vai até lá. Vou vender a casa da Serra, pois não nos serve mais, já que moramos nesse apartamento no centro para minhas sessões de fisioterapia e estar mais próximo das clínicas de atendimento de urgência. Vou vender tudo que não me é útil, POIS COMPREI COM O SUOR DO MEU TRABALHO, e vou enfim, antes de morrer, realizar meus antigos sonhos de juventude: Vou conhecer Paris, vou viajar, vou aproveitar meus últimos dias na terra com dignidade e fartura.

Comunicada a sua decisão à família, Seu Olegário é tradado com total desprêzo, desdém e desconfiança:

“Gente… Nosso Pai está ficando louco! Pirou de vêz! ele quer tirar “NOSSA” herança, e gastar em “Futilidades” como viagens a Paris. Papai tá louco…
Henrique, o mais velho diz:
“Pai, que idéia de jerico é essa, de viajar para a Europa? falta algum dinheiro para o senhor comprar seus remédios para o coração, falta ? “
Já outro diz:
“Nosso pai a esta altura, só pode estar com o Mal de Alzheimer. Essas idéias são absurdas. Acho bom internar papai numa clínica, gente!”
A filha mais nova diz:
“Mas não podemos internar papai na clínica até ele assinar os documentos nos passando TODO o patrimônio. Afinal, essa é nossa herança e iremos lutar por ela…”

O velho Olegário ainda tenta se defender:

— Essas coisas todas são minhas! Eu construí com o suor do meu rosto. Posso vender na hora em que bem entender. Quanto de vocês está investido nisso aqui ? Aonde vocês estavam quando eu ralava no caixa do Banco pra sustentar os estudos de vocês nos melhores colégios?”

— Papai, o senhor precisa de repouso. Olha, cuidado com o Infarto! Já pensou se o Senhor está lá na Europa e tem um infarto em pleno champs elysees ?

— Eu morreria tranquilo. Bem melhor do que estar perto de sanguessugas como vocês, que passaram a vida sugando do meu trabalho.

Passados alguns dias, a família secretamente, decide em reunião:

— Olha, gente, o momento de agir é agora! Papai demonstrou claramente que agora no fim da vida está com umas idéias mirabolantes. Quer viajar, quer vender nosso patrimônio… e quem vai cuidar dele?

Todos se entreolham. Um diz:

— Eu não posso! já tenho coisas demais para tratar.
Outra ainda acrescenta:
— Eu também não posso. Preciso estar em Nova York na segunda-feira para concluir um grande negócio.

Passados os dias, chega uma ambulância com homens fortes, todos de branco à porta:
— Viemos pegar o Senhor Olegário!
O velho Olegário ainda tenta fugir, mas é impedido por uma ampola braba de Sossega-Leão.

Hoje em dia, o velho Olegário, que passou a vida lutando para criar seus filhos, tornou-se refém deles. Vive numa clínica para idosos, internado, jogando baralho e relembrando seus antigos sonhos de juventude. Nada de Paris, nada de viagens, nada de viver a plenitude da vida. Agora, sua rotina é olhar pela janela esperando o fim dos dias. Uma rara visita de um dos filhos que lhe trouxe de Paris uma torre Eiffel de alumínio, brinde de uma grande compra de roupas em uma loja. Já outro filho, vez por outra lhe visita, e traz os filhos para conhecer o vovô Olegário. Um dos netos fala para o irmão “Cuidado com o vovô, não toca nele. Ele é doido!”

E o agora vovô Olegário passa os últimos dias olhando pela janela, até que numa bela tarde de Abril, sem avisar, vem a visita da “mais indesejada das gentes”, a morte lhe toma os últimos soluços neste mundo. Morre o velho Olegário, e é sepultado. Os filhos…

Ah! os Filhos… estes não puderam comparecer. Estavam muito ocupados…
…para um simples entêrro.


Por: Dihelson Mendonça.

Escrito enquanto eu espero aqui na mesa a nossa “doméstica” servir meu Café.
Gislene ?, põe logo esse café aqui na minha mesa, que o Blog do Crato não pode parar!
.

01
dez
08

Mostra SESC – 10 Anos de Descaso com o Artista Caririense – Por: Luiz Benui Taveira ( TIO BIBI )

A cada edição da Mostra SESC Cariri de Cultura a organização do evento apresenta metodologias diferentes, sempre muito cruéis para os artistas do Cariri. [ Acima: Prof. Luiz Benui Taveira (Tio Bibi) ]

Mais uma vez, enquanto artista, venho a público manifestar meu repúdio contra a falta de respeito para com a comunidade artística local. A coordenadora geral, Dane de Jade, pessoa que admiro pelo brilhante desempenho como gestora cultural do SESC. Entretanto, no tocante à Mostra Cariri de Cultura, ela comete pecados gravíssimos a ponto de amadrinhar grupos de seu círculo de amizade, deixando de fora artistas, diretores, produtores e companhias de artes que desejavam de alguma forma mostrar suas artes e talento, mas não tiveram acesso.

Até quando os artistas caririenses vão continuar recebendo tratamento medíocre? As coordenações locais de cultura, nas pessoas do tímido Samuel (Crato) e do prepotente e arrogante Mano Grangeiro (Juazeiro do Norte), deveriam manter contato harmonioso com os artistas. Queremos apenas somar e contribuir na legitimidade do evento, mas não temos oportunidade. Somos tratados como lixo na “república dos cariocas” em terras caririzeiras.

A minha crítica não é ao SESC como instituição, mas ao evento que, em sua 10ª edição, demonstra não respeitar o Cariri e sua gente, especialmente os artistas. Uma das provas disso foi uma tal pré-mostra a que foram sujeitados os grupos teatrais da região, em condições precárias e humilhantes. A magnífica dramaturgia do Grupo Humanos em Espaço-Tempo, com a brilhante direção de Mauro César não pode ser apreciada pelo grande público, pois a produção incompetente não disponibilizou aparato técnico para que a peça RizoMachadiando fosse apresentada. Enquanto isso, os grupos e artistas “de fora” receberam tratamento “iper-mega” especial do comando da “república dos cariocas” e de seus serviçais em nossa terra.

Outro episódio constrangedor aconteceu com a “Trupe do Bulaxinha”, núcleo da ONG Tio Bibi & Cia.: repetindo a prática de outras edições, fomos discriminados e a “trupe do Bulaxinha”, sob a coordenação do carioca Júlio Adrião, foi autorizada e desautorizada a se apresentar no Overdoze, tendo seu som desligado porque estava “atrapalhando” outro espetáculo (de fora). E os nossos palhaços choraram, arrastando-se desmoralizados para fora da lona. Não entendemos que direito tinha o tal Adrião em poder barrar artistas locais que, voluntariamente, abrilhantavam o Overdoze? E isso, sem cachê, apenas por amor ao ofício e ao público. Esse mesmo Júlio Adrião se apresenta há várias edições com a mesma peça, deixando claro que o objetivo da “república dos cariocas” é resolver o “bolso” de seus amigos. Inclusive com cachê que chega cerca de R$ 8.000,00, enquanto por aqui nossos grupos teatrais recebem cachês vergonhosos de R$ 400,00 na programação Cena do Cariri. Pergunta-se, então, a Dane de Jade, até quando esse cidadão e outros iguais vão continuar gozando de tanto privilégio, enquanto os artistas do Cariri são discriminados e humilhados?

Deixo claro que meu desabafo em favor do artista caririense não se estende ao Gerente Operacional do SESC de Juazeiro do Norte, o Sr. Paulo Damasceno, pois o mesmo, na minha concepção, não faz parte dessa “panelinha”. Ele sempre trata os artistas com respeito e carinho, prestigiando-lhes sempre que é possível.

Sugiro que a Coordenação Geral da Mostra SESC Cariri de Cultura repense suas ações e retome o diálogo e o respeito com os artistas e produtores caririenses. Chega de maus tratos e de esmolas. O Cariri é muito rico em sua cultura e não merece ficar com as sobras da “república dos cariocas”. Espero que, em 2009, o potencial da nossa região não sirva apenas para ilustrar a justificativa de captação de recursos públicos, mas efetivamente ocupe o lugar de destaque que merece.

Crato-CE, 29 de novembro de 2008.

Luiz Benui Taveira (Tio Bibi)
Professor, Ator, Palhaço, Diretor de Teatro, Diretor de Produção e Radialista

Nota do Blog do Crato:

Gostaria de reforçar aqui as palavras do autor do artigo excelente, por sinal, e que há muito tempo que eu tenho notado isso entalado na garganta de muitos artistas do cariri também. Já reclamei noutros anos, e vejo muitos outros artistas Caririenses reclamarem que são desprestigiados na Mostra SESC. É como o também artista, poeta, fotógrafo de arte Wilson Bernardo uma vez disse: “Essa Mostra é Importada” Eu ainda acrescento: Esse é um negócio para trazer os artistas de fora para se apresentarem aqui no Cariri, sem nenhuma contrapartida do SESC em fazer o processo inverso, levá-los DAQUI para se apresentarem em outros locais do Brasil, prestigiando-os e assegurando seu valor.

Autor do Artigo: Prof. Luiz Benui Taveira (Tio Bibi)
.

01
dez
08

Crato: Drogas – Casos envolvendo mulheres preocupam

Clique para Ampliar

A jovem R.J.L. integra grupo de mulheres que se prostituem e são usuárias de drogas como o crack

Crato. O que tem chamado à atenção das autoridades policiais no Cariri é o envolvimento de mulheres com drogas. Das 20 recolhidas à cadeia pública do Crato, a metade responde a processo por tráfico de drogas. A informação é da diretora da unidade de segurança pública, Maria do Carmo Maio Esmeraldo.

Com 16 anos de idade e mãe de um filho de 3 anos, a usuária de crack R. J. L. faz parte de um grupo de cinco amigas que vivem exclusivamente da prostituição. Ela é o retrato fiel da degradação moral e social que aniquila e deprime a estrutura social em sua dignidade humana. A jovem conta que, esta semana, perdeu a companhia de uma amiga, grávida de oito meses, que foi presa porque estava roubando em um dos supermercados do Crato.

A usuária diz que é sempre assim. Quando não consegue dinheiro vendendo o próprio corpo, o jeito encontrado é roubar para comprar o crack que é passado por R$ 10,00, nos bairros do Crato.

A história é sempre a mesma. A maioria dos dependentes químicos vem das classes sociais mais baixas. Geralmente, são jovens oriundos de famílias desestruturadas. A jovem R.J.L. conta que chegou ao Crato, com 14 anos de idade, trazendo um filho a tiracolo.

Seu único ponto de referência era um bisavô. Ela preferiu a ficar com as companheiras de droga e prostituição.

A jovem diz que pensa em se recuperar para tentar refazer sua vida. Mas não existe na região nenhuma casa de recuperação que receba mulheres. Este é o grande problema verificado na região do Cariri. O Desafio Jovem, que funciona na zona rural do município, não tem condições sequer de atender aos usuários masculinos de drogas, que todos os dias procuram a entidade.

Fonte: Jornal Diário do Nordeste
.