Arquivo para 17 de novembro de 2008

17
nov
08

Pensamento


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“Odeio seguir alguém, como também conduzir. Obedecer? Não! E governar, nunca! Gosto, como os animais, das florestas e dos mares, de me perder durante um tempo, permanecer a sonhar num recanto encantador e forçar-me a regressar de longe ao meu lar, atrair-me a mim próprio de volta para mim.”
(A Gaia Ciência. Nietzsche)

17
nov
08

Lula deve assinar decreto da Mata Atlântica hoje, Terça-feira, diz Minc


O ministro do meio ambiente, Carlos Minc, anunciou nesta segunda-feira (17), que o Decreto da Mata Atlântica, antiga reivindicação dos ambientalistas brasileiros, deve ser assinado na terça (18) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A Lei da Mata Atlântica foi aprovada pelo Congresso Nacional, em fevereiro de 2006 mas até hoje não foi regulamentada e segundo o setor ambientalista o atraso dificulta a implementação de medidas para recuperação do bioma e facilita o avanço da devastação da Mata.

Para Minc, com a assinatura do documento a Mata Atlântica terá um grande instrumento de defesa. O decreto dá vida lei da Mata Atlântica, protege o que restou, amplia e cria corredores florestais. É um instrumento essencial que levou quinze anos para ser feito e já tinha dois anos sem o decreto. Então não dava para fazer com que a lei fosse cumprida, afirmou o ministro durante a abertura da Semana Nacional da Mata Atlântica, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

A notícia foi comemorada com ressalvas por alguns especialista do setor. O Presidente do Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, Clayton Ferreira Lino demonstrou insatisfação pelo fato do decreto finalizado não haver sido apresentado aos movimentos e ONGs ambientalistas antes de ser enviado para aprovação.

Depois do Decreto inconstitucional e mal feito que permite a destruição das nossas cavernas (Decreto nº 6640 de 7 de novembro de 2008), vemos com certa desconfiança este novo decreto. Esperamos que não sejamos surpreendidos de forma negativa, disse Lino.

Segundo ele, caso não haja surpresas, a regulamentação da Lei, que teve a contribuição de organizações e movimentos ambientalistas para sua elaboração, será um grande avanço e possibilitará a criação de novas unidades de conservação e adoção de diversas formas de intervenção para a preservação e recuperação do bioma.

De sua área original – cerca de 1,35 milhão de quilômetros quadrados segundo os limites estimados para o bioma a partir do Decreto Federal 750/93 e do Mapa de Vegetação do Brasil do IBGE de 1993 -, apenas 7% da Mata Atlântica estão preservados em pequenas porções distribuídas ao longo de 17 estados do país. De acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) o bioma já chegou a ocupar cerca de 15% do território nacional e hoje cobre cerca de 1% da extensão do país.

Fonte: Portal Verdes Mares .
Fotos: websites:
http://www.brasilviagem.com e http://www.rbma.org.br
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17
nov
08

O Vendedor de Sonhos – Por Denísia S. de Oliveira

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Ele passava o ano inteiro esperando apenas uma data chegar. Não se importava com outras comemorações ou com o que, a maioria das pessoas, chamava de festejos tradicionais. Para ele não havia muita diferença entre os dois, pois acreditava que, apenas durante uma noite do ano, tudo poderia ser realmente diferente.
Um momento onde as pessoas tinham a oportunidade de se aproximar umas das outras, podendo se tornar melhores ou agir de uma maneira diferente do habitual. E quando esse dia chegava, parecia que a vida ganhava outros tons, outros sabores. Aquele era o seu mundo. Ele podia, finalmente, reinar. Era um vendedor de sonhos.
Seu Amaro dos Santos era morador antigo da cidade do Crato. Um homem de estatura mediana, de pele clara, cabelos brancos, olhar bondoso e fala mansa. Destacava-se pela disposição que tinha, apesar da idade que carregava consigo. Eram 78 anos de histórias que ele sabia, como diz um bom cratense, de cor e salteado.
Já fazia 30 anos que durante o natal, seu Amaro marcava presença pelas ruas da cidade. Parecia estar em todos os lugares, em cada rua, beco ou esquina. Com seu jeitão vagaroso de andar, espalhava sorrisos, palavras de afeto enquanto fazia o que mais gostava: vender sonhos. E ai daquele que não o encontrasse nessa data, poderia estar certo que o ano novo não seria lá essas coisas.
Era uma tradição, transformou-se em um verdadeiro mito.
O segredo do sucesso de seu Amaro era os bolinhos, que ele chamava, carinhosamente, de sonho. Era uma iguaria fina e delicada, preparada por mãos experientes e desejos antigos, de ver o mundo melhor e as pessoas mais humanas. Durante a noite de natal,ele saía às ruas cantarolando:
“Eu vendo sonhos, grandes e pequenos, fortes e frágeis, puros e serenos. Eu vendo sonhos, frios e quentes, breves e longos, doces e ardentes. Compre um sonho pra você ou dê um sonho de presente. Sonho não tem restrição, não engorda, não tem contra-indicação. Tem pra todas as idades e faz bem ao coração Compre um sonho, que esta noite é especial Qual será seu sonho nesta noite de Natal?
Minha avó suspirava cheia de saudade, porque aquela história lhe remetia à sua infância. E , percebendo que estávamos igualmente emocionados, como se tivéssemos de fato conhecido o vendedor de sonhos, ela apaga a chama da vela que ficara acesa para comemorar o natal naquele ano.

Por Denísia S. de Oliveira

17
nov
08

Luar de novembro

Foto: Emerson Monteiro

17
nov
08

A formiguinha e o arroz


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No sobrado do seu Raimundo, moravam duas famílias. Na parte de baixo, viviam: o patriarca da família – o próprio Raimundo – que odiava que o chamassem assim. Achava esse nome horrível e preferia ser chamado de Pinto, seu último nome. Morava também a Dona Maísa que adorava dar cascudos nos filhos quando estes ainda eram crianças – depois de vovó, esse hobby foi deixado de lado, graças a Deus. E, completando o terceto inferior dos moradores do sobrado, o jovem Araújo, o filho mais novo de um total de quatro filhos homens do casal. Na parte de cima do sobrado, recém construída, moravam também, três pessoas: um dos filhos do casal com a esposa e a pequena Loah. O sobrado, erguido aos poucos e com muito sacrifício, situava-se entre a rua Beta e a rua Pi. Era um dos mais antigos do bairro e fora construído na década de setenta por um dos tios da pequena Loah. Não era nenhum palacete, mas abrigava duas famílias que viviam felizes e adoravam sorrir com as travessuras da rebenta que era uma verdadeira levada da breca. A cada dia uma novidade. A todo instante, a pequena Loah surpreendia os familiares com seus questionamentos esquisitos, mas perfeitamente compatíveis com sua idade de quatro anos. A mãe já não mais suportava os afazeres de casa uma vez que a maior parte do tempo era destinada aos cuidados com a filha. Pra tudo a menina dava trabalho além do normal: pra tomar banho, pra dormir, pra acordar… Mas a pior de todas as horas era quando se falava em comer. Se quisesse ter dor de cabeça bastava dizer as palavras mágicas: ‘Loah, está na hora de comer!’. A menina se transformava: resmungava, inventava brincadeiras, ia pegar papel, caneta, corria pra buscar a boneca… E ao fim de tudo voltava com aquela cara de quem não está com fome que toda boa mãe conhece! Pronto. Estava armado o barraco. Agora era só esperar para ver mais uma das doces e louváveis missões de mãe: a de alimentar o filho que nunca tem vontade de comer! O pai da Loah, que raramente estava em casa nas horas das refeições, teve um dia a idéia de assumir essa tarefa diária. Pegou a garota. Colocou-a sentada junto ao colo e começou. A garota, feliz com a novidade, aceitou as primeiras colheradas sem muita rejeição. Passado, porém, o encanto começou a peleja. A mãe da rebenta assistia a tudo sorrindo – sentia-se aliviada e interiormente pensava: ‘agora ele sabe o que eu passo!’… E sorria silenciosamente.

Num dos últimos recursos, o pai da pequena Loah tem uma idéia. Contará para a filha uma historinha para desviar a atenção da filha e conseguir concluir a tarefa. Faz a sugestão:

– Você quer que o papai conte uma historinha? A resposta não poderia ser mais animadora! A menina dá um grito de alegria e diz:
– Eu quero! Conta papai!
E segue-se um silêncio…
– Conta papai! Você não vai contar, não!? Esperneia a garota enquanto rejeita mais uma colherada.

Aflito, o pai tenta ganhar tempo. O problema é que pensou na idéia de uma historinha, mas não tem nenhuma pra contar. Não se recorda das historinhas infantis que ouvira quando era criança. Suspira fundo e tenta inventar uma historinha para a felicidade da filha:
– Era uma vez uma menina que morava numa casa muito linda.
– Continua, papai!
– Calma!
E continua – agora mais aliviado por acreditar que o velho recurso do famoso e sugestivo ‘era uma vez…’ estava produzindo o efeito esperado.
– Essa menina era muito danada e não gostava de comer.
Nesse momento, as feições da Loah mostram a identificação com o tema do enredo. Ela arregala os olhos e, após engolir em seco uma colherada cheia de arroz, apresenta mais uma de suas ponderações:
– Viu, mamãe! Ela também não gosta de comer, viu! E faz uma carinha de triunfo.
A mãe que apenas observava à distância tenta intervir, mas é interrompida com a continuação da historinha:
– Essa menina, toda vez que vai comer, deixa cair muito arroz e a mãe fica muito triste com isso porque tem muita gente passando fome e a filha dela destrói o alimento que é feito com tanto carinho.
– Mas por que é que ela derrama, hein papai!?
– Ela derrama porque não abre o bocão bem grande para comer.
– Mas eu abro, não é papai!? Quer ver…
E abre o bocão para mais uma colherada cheia. E a história prossegue.
– Na casa da menina existe uma formiguinha que tem várias formiguinhas bem pequenininhas. Todas moram nos buracos das paredes da casa em caverninhas bem feitas que elas fazem com muito trabalho e dedicação porque as formiguinhas são muito organizadas. A mãe das formiguinhas sai todos os dias procurando alimento para as filhinhas dela.
– Elas têm muita fome, papai!? As filhinhas dela gostam de comer!?
– Sim. Porque elas saíram das casinhas delas na floresta e vieram morar na cidade e aqui falta comida pra muita gente… aqui não tem comida pra todas as pessoas. E falta alimento para os bichinhas também. Por isso ela vai procurar comida na hora do almoço na casa da menina que não gosta de comer e quando ela volta as filhinhas dela ficam muito felizes.
– Mas elas apanham pra comer!?
– Não. Elas comem tudo que a mãe dar pra elas.
– E por que elas vêm aqui na minha casinha, papai!? Por quê!?
A essa altura, a sapeca da menina já se havia apoderado da história e já se sentia a própria criança que derramava o arroz…
– Porque a mãe das formiguinhas descobriu que todos os dias a menininha derrama arroz no chão quando vai comer. Ela aproveita e leva o arroz pras filhinhas dela!
– E como ela leva se o arroz é bem grandão assim, oh!? – e abre os braços como que a mostrar o tamanho de um arroz em relação ao tamanho da formiguinha.
O pai continua – a essa hora, a refeição já estava acabando. Mais umas duas colheradas e pronto, missão cumprida!
– A primeira vez que a formiga viu a menina derramando a comida ela estava sozinha. Tentou levar a comidinha pras filhinhas dela, mas não conseguiu. Então, ela voltou para a casa dela e pediu ajuda de outras formigas que voltaram para buscar o arroz. Ela levou tudo que a menina tinha derramado no chão e as filhinhas dela comeram tanto e ficaram tão felizes, sabia!?… E você sabia também que as formigas conseguem carregar coisas muito maiores e mais pesadas do que elas!?
– Que legal, papai! Então eu posso derramar arroz todos os dias, não é!? Porque as formiguinhas gostam! Viu, mamãe!? E por que a formiguinha não está aqui agora!? Eu posso esperar até ela vir pegar o arroz, papai!?
– Se você derramar arroz, Loah, a mamãe fica triste. Interveio a mão mais uma vez.
– Mas a formiguinha não fica feliz!?… Eu derramo só um pouquinho, tá mamãe!
E hoje, as refeições são de dois tipos: as que são feitas com a historinha da formiguinha e do arroz e as sem esse tempero. A e mãe da pequena Loah foi obrigada a aprender a historinha e sempre que foge a algum detalhe da história original é repreendida pela garota:
– Não é assim não, mamãe! Ela chamou os amiguinhos e… A senhora nem sabe contar a historinha!… Vou dizer pro meu pai, viu!
– Vem comer, Loah!
– Oba! Conta a historinha da formiga, mamãe!… Você conta?
– Sim, filha. Era uma vez…

Nijair Araújo Pinto
Do meu livro ‘Crônicas e mais um conto’.
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17
nov
08

Mostra Sesc – a visão de um artista

Pela tela quadrada da janela da van, após desembarcar no aeroporto de Juazeiro do Norte, o que se vê no percurso de 30 minutos até a cidade do Crato é uma paisagem bem diferente de filmes como Cinema, aspirinas e urubus ou Deus e o diabo na terra do sol. No sertão do Cariri(sul do Ceará), a paisagem é verdinha e na Chapada do Araripe, que faz divisa com Pernambuco, Paraíba e Piauí, existem até espécies da mata atlântica. Quando o ator João Miguel voltou de lá em 2002 e me disse que existia em pleno Sertão Brasileiro uma mega Mostra de Artes abrangendo teatro, música, artes plásticas, audiovisual, fotografia e literatura, confesso que não duvidei. Afinal de contas não se deve duvidar da palavra de um cumpadre. Mas é compreensível o meu espanto e o de todos com quem conversei aqui em relação ao tamanho do evento. Esse ano foram 1.500 artistas provenientes de 17 estados Brasileiros e 4 países(Espanha, França, Portugal e Argentina), apresentando seus trabalhos em 43 espaços espalhados por 12 cidades, sendo que o grosso da programação se concentra nas cidades de Juazeiro do Norte, Crato e Nova Olinda. A atriz espanhola Nereida Baros do grupo Nutteatro diz estar impresionada com o acolhimento para vários tipos de propostas artísticas diferentes. O Diretor Carlos Neira da companhia da Galícia completa: “ Na Espanha não há nada parecido em termos de estrutura e diversidade” A programação diária começa de manhã com diversas oficinas e workshops que se estendem até as 17 horas, a partir de então começam diversos espetáculos em teatros, galpões, clubes e praças públicas da cidade. É impossível acompanhar tudo ao mesmo tempo, por isso, recomenda-se a leitura da programação impressa e do jornal diário da mostra,o Flor de Piqui, para que cada um possa fazer o seu itinenário cultural. Se não faltam atrações, tampouco falta público, mesmo as peças que são apresentadas a meia-noite durante a semana ficam lotadas, e é preciso garantir o ingresso com antecedência para não voltar da porta. A primeira coisa que salta aos olhos aqui é o caráter popular da Mostra. Não se trata de um festival para “entendidos”, onde a “nata” da “classe” celebra o seu encontro. É claramente perceptível uma vocação da população para Arte. Não importa se é o teatro de mímica do grupo francês Dos a Deux ou o som sourround do ritual dos índios Karajá na praça central, todos querem ver, ouvir e ter aquela vivência. Os filhos do taxista que te pega no hotel na véspera, você encontra na adaptação de Dom Quixote feita pelo grupo Teatro que roda de Goiânia no dia seguinte. Dane de Jade, Gerente de cultura do Sesc Ceará e criadora, há 10 anos atrás, da Mostra Sesc Cariri de Cultura, diz não ver sentido na vida se não for através da arte, mas explica o caminho das pedras: “Num pais onde a constituição foi regulamentada, em termos de cultura, em 1998, com certeza há uma longa estrada pela frente para formar o hábito de pensar cultura como um direito social.“ De fato se formos analisar a Mostra Cariri do ponto de vista da economia da cultura após esses 10 anos, tomamos conhecimento, através de dados da Prefeitura, que o comércio, a hotelaria e os vínculos empregatícios sobem 70% nesse período. Contribuem também para isso vários atrativos da região, alguns naturais, como a cachoeira de Missão Velha, as caldas naturais da cidade de Barbalha, o Geopark do Araripe (patrocinado pelas Nações Unidas) e fósseis de Pterossauros do período Cretáceo (cerca de 110 milhões de anos) em Santana do Cariri, e outros culturais. O Cariri é um pólo de Mestres de Reisados, bandas de pífano (Cabaçais), Maneiro Pau, Bacamarteiros e artesões. Durante a Mostra é impensável não participar das suas Terreiradas, quando abrem o quintal de suas casas e com suas lindas cantigas e indumentárias celebram tradições orais seculares passadas de pais para filhos. Durante o folguedo do Mestre Aldenir foi servido para todos os presentes um delicioso mugunzá. Após um dia inteiro de acontecimentos paralelos, todos os caminhos levam ao Crato Tênis Clube, onde todos os artistas que se apresentam se misturam com a população local para curtir baladas dionisíacas. Por lá esse ano passaram shows de bandas brasileiras que não vêmos juntas nem em mega festivais de música: Mundo Livre S.A, Cidadão Instigado, Cordel do fogo encantado, Lucas Santtana e Seleção Natural, Curumin, Buguinha Dub, Totonho e os Cabras, etc. Ao final dos shows as discotecagens do DJ Guga de Castro iam até as 5 da manhã. Na vitrola rolava de tudo, de Luiz Gonzaga a Justice, passando pelo que você imaginar. Outra característica marcante para quem passou esses 8 dias aqui foi a sensação de encontro e celebração da humanidade. O intercâmbio de línguas, idéias, pessoas e culturas é diário e intenso. É comum, por exemplo, encontrar numa van que leva ao lançamento literário do livro Gabinete de Curiosidades do naturalista Domenico Vandelli, o educador Pablo Cunha , que é professor de uma escola de 2º grau no Rio de Janeiro, onde os alunos tem no currículo escolar aulas de robótica e videogame. Dane de Jade diz que faz questão que os grupos permaneçam durante toda a semana justamente para intensificar a rede de relações aqui formadas. E de fato, seja na piscina do hotel pela manhã, nas workshops a tarde, no Crato tênis clube a noite, ou em qualquer um desses deslocamentos entre uma coisa e outra, todos querem conversar, perguntar, entender, dançar, beber e rir juntos. Como dizem os cearenses com seu humor particular e sotaque característicos: “Tem coisa melhor?, pense….”

Autor: Lucas Santtana (http://www.diginois.com.br/)
(Texto de autoria do artista Lucas Santtana, publicado no jornal Folha de São Paulo)

Blog do Crato – Apoio:


17
nov
08

A felicidade eterna prometida pelo Cristianismo

O problema objetivo consiste numa investigação acerca da verdade do cristianismo. O problema subjetivo diz respeito à relação do indivíduo com o cristianismo. Para pôr as coisas de forma simples: como é que eu, Johannes Climacus [Kierkegaard], posso participar da felicidade prometida pelo cristianismo? …
Partindo do princípio de que não há problemas com as Escrituras – o que se segue? Uma pessoa que antes não tinha fé passou a estar um só passo mais próximo de a ter? Não, nem um só passo. A fé não resulta da investigação científica; não tem de todo uma origem direta. Pelo contrário, nesta objetividade há a tendência para perder o interesse pessoal infinito pela paixão que é a condição da fé, o ubique et musquam no qual a fé pode brotar. Uma pessoa que antes tinha fé ganhou algo no que respeita à sua força e poder? Não, nem de longe. Em vez disso, aquilo que ocorre é que, neste volumoso conhecimento, nesta certeza que espreita à porta da fé e ameaça devorá-la, ela está numa situação tão perigosa que precisará esforçar-se muito, cheia de medo e a tremer, para que não caia vítima da tentação de confundir conhecimento com fé. Apesar de a fé ter tido até agora um mestre-escola eficaz na incerteza existente, teria na nova certeza o seu mais perigoso inimigo. Pois, se a paixão for eliminada, a fé deixa de existir, e a certeza e a paixão não coexistem. Quem quer que acredite que há um Deus e uma providência que tudo governa achará mais fácil preservar a sua fé, mais fácil adquirir uma coisa que é definitivamente fé e não uma ilusão, num mundo imperfeito em que a paixão é mantida viva do que num mundo absolutamente perfeito. Num tal mundo, a fé é … impensável.
Assumo agora o oposto, que os adversários conseguiam provar o que desejam sobre as Escrituras, com uma certeza que transcende a vontade mais ardente da hostilidade mais entusiástica – e daí? Aboliram com isso o cristianismo? De modo algum. Foi o crente lesado? De modo algum, nem um bocadinho. O adversário tornou legítimo ser liberto da responsabilidade de não ser crente? De modo algum. Lá porque estes livros não são escritos por estes autores … e não são inspirados não se segue … que Cristo não existiu. Até agora, o crente é igualmente livre para assumi-lo. …
Eis o ponto essencial da questão, e retorno ao caso da teologia culta. Em prol de quem é a prova procurada? A fé não precisa dela e deve até vê-la como sua inimiga. Mas quando a fé começa a sentir-se embaraçada e envergonhada, como uma donzela para quem o seu amado já não é suficiente, mas que se sente secretamente envergonhada do seu amante e tem, portanto, de pensar que há algo de notável nele – quando a fé começa deste modo a perder a paixão, quando a fé começa a deixar de ser fé, então torna-se necessária uma prova para merecer o respeito do lado da descrença. … A filosofia ensina que deve tornar-se objetiva, ao passo que o cristianismo ensina que deve tornar-se subjetiva, isto é, tornar-se um sujeito na verdade. … O cristianismo deseja intensificar a paixão ao seu mais alto grau; mas a paixão é subjetividade e não existe objetivamente. …
Pode-se presumir, então, que a tarefa de tornar-se subjetivo é a tarefa mais elevada e uma tarefa proposta a todos os seres humanos; tal como, analogamente, o prêmio mais elevado, uma felicidade eterna, existe apenas para aqueles que são subjetivos; ou melhor, passa a existir para os indivíduos que se tornam subjetivos.
Quando a questão da verdade é colocada de forma objetiva, a reflexão é dirigida objetivamente para a verdade como um objeto com o qual aquele que conhece está relacionado. Contudo, a reflexão não está focada na relação, mas na questão de saber se é a verdade com a qual aquele que conhece está relacionado. Se apenas o objeto com que ele está relacionado é verdadeiro, o sujeito é considerado estar na verdade. Quando a questão da verdade é levantada subjetivamente, a reflexão é dirigida subjetivamente para a natureza da relação individual; se apenas o modo desta relação está na verdade, o indivíduo está na verdade mesmo que ele esteja assim relacionado com o que não é verdade. Tomemos como exemplo o conhecimento de Deus. Objetivamente, a reflexão é dirigida ao problema de saber se este objeto é o Deus verdadeiro: subjetivamente, a reflexão é dirigida para a questão de saber se o indivíduo está relacionado com uma coisa de tal maneira que a sua relação é na verdade uma relação-com-Deus. … O indivíduo existente que escolhe prosseguir o caminho objetivo entra no processo-de-aproximação completo pelo qual se tenta revelar Deus objetivamente. Mas isto é totalmente impossível, porque Deus é um sujeito e, portanto, existe para a subjetividade apenas na interioridade. A ênfase objetiva incide no que é dito, a ênfase subjetiva no como é dito. Esta distinção mantém-se mesmo no reino estético e recebe uma expressão precisa no princípio de que é em si mesmo verdade pode na boca de tal e tal pessoa tornar-se falso … Objetivamente o interesse está focado unicamente no pensamento-conteúdo, subjetivamente na interioridade. No seu máximo este “como” interior é a paixão do infinito, e a paixão do infinito é a verdade. Mas a paixão do infinito é completa subjetividade e, assim, a subjetividade torna-se a verdade. … Apenas na subjetividade existe determinação para procurar o fator e não o seu conteúdo, pois o seu conteúdo é precisamente ele próprio. Desta forma, a subjetividade e o seu “como” subjetivo constitui a verdade. … Eis aqui uma tal definição de verdade: uma incerteza objetiva agarrada rapidamente num processo de apropriação da mais apaixonada interioridade é a verdade, a verdade mais elevada que um indivíduo existente pode atingir. …
Mas a definição acima de verdade é uma expressão equivalente da fé. Sem riscos não há fé. A fé é exatamente a contradição entre a paixão infinita da interioridade individual e a incerteza objetiva. Se sou capaz de captar Deus objetivamente, não acredito, mas precisamente porque não sou capaz de fazer isto tenho de acreditar. … Sem risco não há fé e quanto maior o risco maior a fé; quanto mais é a segurança objetiva menos é a interioridade (pois a interioridade é precisamente subjetividade), e quanto menos é a segurança objetiva mais profunda é a interioridade possível. Quando o paradoxo é em si mesmo paradoxal repele o indivíduo em virtude do seu absurdo e a paixão correspondente à interioridade é a fé.
Quando Sócrates acreditou que havia um Deus, ele agarrou-se rapidamente à incerteza objetiva com toda a paixão da sua interioridade, e é justamente nesta contradição e neste risco que a fé tem as suas raízes. Agora é de forma diferente. Em vez da incerteza objetiva, há aqui uma certeza, a saber, que objetivamente é absurdo; e este absurdo, agarrado rapidamente na paixão da interioridade, é fé. A ignorância socrática é uma espécie de brincadeira genial em comparação com a seriedade perante o absurdo; e a interioridade existencial socrática é uma frivolidade grega em comparação com a enérgica gravidade da fé. Devido à sua repulsão objetiva o absurdo é precisamente a medida da intensidade da fé na interioridade. Suponha um homem que deseje adquirir a fé; deixe a comédia começar. Ele deseja ter fé, mas ele deseja também proteger-se por intermédio de uma investigação objetiva e do seu processo-de-aproximação. O que acontece? Com a ajuda do processo-de-aproximação o absurdo torna-se algo diferente; torna-se provável, torna-se progressivamente provável, torna-se extrema e enfaticamente provável. Agora ele está pronto a acreditar nisso, e ele aventura-se a afirmar para si mesmo que não acredita como os sapateiros e os alfaiates e o povo simples acredita, mas apenas após uma longa deliberação. Agora ele está pronto a acreditar nisso; e, vejam só, agora tornou-se completamente impossível acreditar nisso. Algo que seja quase provável, ou provável, ou extrema e enfaticamente provável, e algo que ele pode quase conhecer, ou tão bom como conhecer, ou extrema e enfaticamente quase conhecer – mas é impossível acreditar… .

Søren Kierkegaard, Concluding Unscientific Postscript, traduzido a partir da tradução inglesa de David F. Swenson and Walter Lowrie (Princeton University Press, 1949 e 1961), publicada in Howard Kahane, Thinking About Basic Beliefs, Wadsworth, Belmont, 1983, pp. 30-32.

17
nov
08

Prefeito Samuel Araripe profere palestra no Rotary clube do Crato

GABINETE DO PREFEITO

Na ultima quinta- feira, 13, o prefeito Samuel Araripe proferiu uma palestra no Rotary Club do Crato sobre o Plano de Governo, Projetos e Realizações. Na ocasião, estavam presentes secretários municipais, rotaryanos e convidados. Após a conferência o presidente do Rotary Francisco Lopes Parente entregou ao Prefeito Samuel Araripe uma medalha de menção honrosa e o secretário João Batista conferiu ao chefe do executivo cratense um diploma de honra ao mérito pelo reconhecimento de suas ações.

O Rotary é ao mesmo tempo uma organização internacional voltada para compreensão e concórdia universal, um movimento de estímulo a uma ação profissional e comunitária ética e responsável.

Fonte: Website da PMC.

17
nov
08

Futebol – Atualização – Por: Amilton Silva

Flamengo goleia Palmeiras

Numa tarde inspirada do meia Ibson que marcou tres gols, o Mengão aplicou uma goleada na tarde de ontem no Maracanã no Palmeiras por 5 X 2.Completaram a goleada Marcelinho Paraíba e Kléberson.Os gols do Verdão foram de Alex Mineiro e Kleber.Com a vitória o Flamengo passa para a 3ª posição com 63 pg , cinco atras do líder São Paulo que venceu o Figueirense por 3 X 1, no Morumbi.Outros resultados da rodada finalizada ontem:

GOIÁS 3 X 1 BOTAFOGO
GRÊMIO 2 x 1 CORITIBA
ATLETICO PR 2 x 1 VITÓRIA
SANTOS 1 X 0 INTERNACIONAL

A 35ª rodada, que teve início na quarta feira, foi marcada por uma média de 4,1 gols por partida e registrou vitória de todos os mandantes.

CLASSIFICAÇÃO APOS A 35ª RODADA:

1º SÃO PAULO 68 PG
2º GREMIO 66 PG
3º FLAMENGO 63 PG
4º CRUZEIRO 61 PG

5º PALMEIRAS 61 PG
6º GOIÁS 51 PG
7º INTERNACIONAL 51 PG
8º CORITIBA 50 PG
9º BOTAFOGO 49 PG
10º ATLÉTICO MG 47 PG
11º VITÓRIA 45 PG

12º SPORT 45 PG
13º SANTOS 43PG
14º ATLÉTICO PR 41 PG
15º FLUMINENSE 40 PG
16º NÁUTICO 40 PG

17º VASCO 37 PG
18º PORTUGUESA 36 PG
19º FIGUEIRENSE 35 PG
20º IPATINGA 34 PG

Por: Amilton Silva – Editor de Esportes do Blog do Crato.

Patrocínio: Amilton Som – A melhor loja de CDs e DVDs da Região do CARIRI.


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17
nov
08

Relíquias de Santa Margarida Maria Alacoque percorrerão a diocese de Crato

A diocese de Crato recepcionará, no próximo dia 26 de dezembro, as relíquias de Santa Margarida Maria Alacoque, ora percorrendo as dioceses brasileiras em peregrinação. Essas relíquias – um ossário que contém vários fragmentos de ossos e uma parte do tecido cerebral, que se conserva incorrupto, por mais de 300 anos – serão recepcionadas inicialmente na Catedral de Nossa Senhora da Penha.
A peregrinação que vem percorrendo diversos países partiu da França, onde Jesus apareceu à Santa, no século XVII. Conforme Dom Fernando Panico, bispo de Crato, “O objetivo da peregrinação das relíquias da santa é despertar no povo essa devoção e preparar o Brasil para ser consagrado ao Coração de Jesus”. No Cariri, segundo Dom Fernando, essa devoção já está bem arraigada e faz parte da cultura católica nos 32 municípios que formam a diocese de Crato, todos possuidores da associação de fiéis do Apostolado da Oração.
Para o Cura da Sé Catedral, Padre Edmilson Neves, “As peregrinações contribuem para fazer conhecer a mensagem do Coração de Jesus no mundo, que é uma mensagem de paz, amor e reconciliação, além de reavivar a fé dos cristãos no profundo Amor do Divino Coração pela humanidade”.

Quem foi a Santa

Santa Margaria Maria Alacoque era francesa, nasceu em 1647 e acreditava que sua missão era dar impulso à devoção ao Sagrado Coração. Ela morreu no dia 17 de outubro de 1690, aos 43 anos de idade. Foi beatificada no dia 18 de setembro de 1864 e canonizada no dia 13 de maio de 1920.

Blog do Crato – Patrocínio: