Arquivo para 14 de novembro de 2008

14
nov
08

UM POSTE QUE DAR CHOQUES

Qual o significado de um poste que dar choques? Choque elétrico. Ninguém em sã consciência tentaria uma resposta a isso. Menos ainda quem de repente começa uma leitura assim. Então mais um elemento: fica na praça, um poste que dar choque. Aí alguém dirá da segurança pública, do desleixo do governo, dos perigos da eletricidade. E se isso ocorreu num período em que a eletricidade ainda se universalizava e a maior parte das pessoas moravam em casas sem esta energia, mais perigos se via. Afinal esta coisa feroz que ainda hoje nos é desconhecida, mas fantasiosa era então: um servente do Colégio Diocesano, ainda jovem, morreu eletrocutado por uma simples enceradeira. Eletricidade é uma ameaça incontrolável de repente pode deixar alguém noutra dimensão.

Então na praça havia um poste que dava choque. Isso já sabemos, mas agora vou completar. Os rapazes na juntada das noites namoradeiras, enquanto as meninas volteavam a Siqueira Campos. Ficava em fila lateral de mãos dadas para, na hora que alguém passasse, o que ficasse mais próximo do poste pegasse no mesmo e assim a corrente de eletricidade circulasse até o último que recebia o raio do imprevisto. De vez em quando a deselegância atingia a orelha de alguma donzela no flutuar redondo da praça.

Agora cabe a pergunta inicial. Seria um senso coletivo de sado-masoquismo? É uma resposta bem óbvia, tipicamente teórica. Afinal o elemento surpresa era o fato central. Então seria apenas sádico. Menos ainda, pois o sadismo coletivo é coisa rara, quase simbólica. Então poderia ser uma mera brincadeira de jovens na falta maior do que fazer? Ai começamos a responder. Era uma brincadeira.

Mas uma brincadeira de sedução. De exibição diante das meninas. Como um rito guerreiro de nossa origem tribal. Parte da noite, por semanas sem cuidados da companhia elétrica e da prefeitura, parte dos jovens da cidade, ao redor do poste, no canto da praça que dava para a casa de Zé Alencar. Acho que a brincadeira perdeu o senso de surpresa e foi sendo esquecida antes até que um eletricista tornasse indene aquele poste.

14
nov
08

Epifanias

O segredo da vida está na arte.”
Oscar Wilde

O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê.
É preciso transvê o mundo.”
Manoel de Barros


A verdade do mundo, amigos, não está nas mãos da religião nem da ciência, mas nos olhos dos poetas. Só eles conseguem perceber o Universo em todas suas dimensões. Só eles transvêem o mundo, como diz o Manoel de Barros. Aos artistas foi dado o toque divino de continuar a obra da criação. Depois da expulsão do paraíso, a eles se transferiu a árdua continuidade do Gênesis, enquanto um Deus, desapontado com a raça humana, se recolhia aos aposentos com suas espadas flamejantes. A arte, assim, permanece como a única vacina que nos imuniza contra a destruição definitiva. Sempre acreditei que todo criminoso é, na verdade, um artista frustrado e a recíproca ( quem sabe?) talvez também seja verdadeira. Nero teria incendiado Roma, pela incapacidade de incendiá-la com sua criatividade. Impossibilitado de criar , o homem opta, revoltado, pelo apocalipse; incapaz de fazer Arte, resolve fazer artes…
E o desabrochar da arte, amigos, tantas vezes, carece de epifanias. O artista, frequentemente, precisa ser tocado pelas asas do anjo, necessita do estalo do Padre Vieira. Um poema, uma música, um quadro, u m romance… e , de repente, o tsunami da arte sorve almas e mais almas nas suas ondas, jogando-as em praias paradisíacas e portos inseguros. Só se consegue observar um mundo melhor, mais belo e mais justo, usando o filtro colorido da Arte.
Faz-se mister reverenciar quem tem feito do engenho de muitas epifanias a sua vocação. A mais importante Semana do Ano no Cariri transcorre nestes dias. Que diabos representam hoje a EXPÔ/Crato, o Juaforró, a Festa do Pau da Bandeira da Barbalha, além de meros eventos de entretenimento, dirigidos pelas mais cabeludas regras de Mercado ? Pois é, amigos, esta semana temos a Mostra Cariri das Artes, já na sua décima edição. Aqui se apresentaram os mais importantes grupos teatrais do país e muitos grupos importantes do exterior. Música, artes plásticas, literatura, cultura popular fervilharam num caldeirão que bem representa a riqueza da cultura brasileira que tem como ponto culminante a diversidade. Devemos tudo isto à iniciativa do SESC e da Fecomércio na realização do mega-evento: atrações de 17 estados, 5 países envolvidos,mais de 150 atrações culturais entre peças teatrais, música e oficinas,Lançamentos de livros,Reisados e bandas cabaçais,Cordelistas, Ritos de Passagem, são mais de 1.500 artistas envolvidos diretamente. Quando o poder público, historicamente, no país, sempre se mostrou vesgo e omisso na sua Política Cultural, a iniciativa da Mostra, em nossa região, é simplesmente fundamental.
O impacto da Mostra, nestes dez anos, é estarrecedora. Conseguimos formar uma platéia crítica, educada e presente. Todos os espetáculos estavam superlotados e ingressos se disputavam com uma voracidade inimaginável em tempos passados. Os artistas começaram a desenvolver uma autocrítica refinada e a primar pela perfeição. Inúmeros importantes atores e diretores se sentiram tocados e começamos a desenvolver as artes cênicas na região como não se via desde os tempos imemoriais dos “Romeiros do Porvir”. A Cultura Popular passou a ser valorizada e já se percebe que começa a fazer parte do cotidiano das pessoas ( de onde nunca deveria ter sido afastada). Criou-se um visível intercâmbio entre vários artistas, linguagens e saberes, com engrandecimento de todos.
Talvez, no entanto, o mais importante de tudo tenha sido a contastação de que é possível, sim, despertar na população o gosto pela boa arte, longe das armadilhas sedutoras do mercado. Ninguém consegue se apaixonar por aqui que não conhece e o SESC tem que ser reverenciado como a alcoviteira deste encontro. Conseguiu aproximar platéia, artistas e corações. A ele devemos esta enxurrada de epifanias, este vendaval de paixões pela Arte e pela vida.

J. Flávio Vieira

14
nov
08

A SINCERIDADE DO NOSSO SERTANEJO – Carlos Eduardo Esmeraldo

Vinte anos atrás, nosso caboclo sertanejo era possuidor de valores culturais e educacionais que aos poucos vão sendo destruídos. Depois que todos os recantos foram eletrificados, a antena parabólica roubou a espontaneidade do nosso sertanejo e principalmente a sua sinceridade. Esta era uma virtude que infelizmente vai se perdendo com os costumes cariocas propagados pelas novelas. A sinceridade espontânea, que para nós, crentes de sermos educados, seria indelicadeza, no rude sertanejo vai cedendo lugar às mentiras de conveniência. Certa vez, acredito que em 1965, estávamos reunidos na fazendo de um tio, no vizinho estado do Pernambuco. O meu tio, a pedido dos moradores da terra dele e de seus vizinhos, levou até aquelas brenhas, Monsenhor Rocha e o Padre Arnaldo, para celebrarem confissões e missas. Para os moradores daquele lugar esquecido foi um grande evento. Superou todas as expectativas, pois veio gente que morava a mais cinco léguas. Uma verdadeira multidão se espremia no vasto terreiro da casa grande para ouvir os sermões daqueles dois sacerdotes. Havia centenas de homens e mulheres que não confessavam seus pecados há mais de trinta anos, se é que na vida sofrida daquela pobre gente poderia existir pecado. Na manhã do domingo, logo após a missa, Maria Rita, uma velhinha sertaneja bem disposta e falante, veio cumprimentar as minhas tias. Falou com todas, menos com uma delas, que morava no Rio de Janeiro e estava de férias em nosso meio. Essa tia, com seus quarenta e tantos anos, solteira, sonhava ainda com um bom casamento. Ela não se encontrava com Maria Rita, há mais de vinte anos. Então perguntou à velinha: “Por que é que você não fala com os pobres Maria Rita?” “Quem é essa comadre?” Perguntou Maria Rita à dona da casa. E quando recebeu a reposta de que se tratava da tia Naninha, a sinceridade da Maria Rita aflorou de imediato: “Também pudera, como eu haveria de conhecer: você tá “veia”, feia, acabada, minha fia!” Tamanha virtude, que para nós urbanos não ousamos praticar, não mais é vista nas pessoas simples do sertão. Tenho um sobrinho que, quando criança, sonhava ser aviador e não podia ver um avião pelos ares. Quando de férias no São José, ele prometeu a Adília, a lavadeira de suas roupas, que quando fosse piloto iria lhe proporcionar uma viagem de avião. Passou o tempo, o sonho desse sobrinho se tornou realidade, e ele tratou de cumprir a promessa. No dia marcado, eu fui esperar Adília no aeroporto. Ela que não conhecia Fortaleza, aproveitou bem a estadia em nossa capital: tomou banho de mar, foi ao cinema do Iguatemi, passeou por toda a parte. Depois, insistiu em visitar uma amiga lá do Crato, que há mais de trinta anos morava aqui. Essa sua amiga havia visto Adília ainda no Crato. Naquela época, Adília era bem magrinha e agora, graças a uma diabetes adquirida, se apresentava com acentuada obesidade. Acompanhamos Adília em sua visita a tal amiga. Ao batermos à sua porta, ela não reconheceu Adília. Quando dissemos quem era, imediatamente ela afirmou que não reconheceu Adília, pois ela estava bem mais forte. Depois de colocarem a conversa em dia, a amiga de Adília, que já beirava os oitenta anos, perguntou: “você me achou muito diferente?” “Não, está do mesmo jeito.” Respondeu Adília, com dissimulação. Ao nos despedirmos e entrar no carro, Adília disse para minha mulher: “Dona Magali, aquela “veia” ali já tá é “mooorta” e ainda não sabe!” Realmente a espontânea sinceridade do nosso sertanejo já não é a mesma.

14
nov
08

O Bárbaro "Bárbara"

MOSTRA SESC DE CULTURA

Cariri Abidoral

Abidoral Jamacaru:
´Isso é um jogo aberto e eu não trago bandeira.

A parte que eu gosto do abismo é a beira´

(Foto: JÚNIOR PANELA)

Compositor de mão cheia, referência da cena musical do Cariri, Abidoral Jamacaru ganhou destaque na Mostra Sesc de Cultura

Tudo tem um tempo de ser. E quando um grito custa a nascer se atira além do horizonte / Viaja nos quatro ventos / Estala que nem chicote / Ressoa muito pra pouco chão / Dói, lateja, explode e voa sem direção. Os versos da canção ´Mais tarde, mais forte´, presente no novo disco de Abidoral Jamacaru, parecem, conscientemente ou não, talhados para definir a própria trajetória desse cantor e compositor que se fez referencial para a música do Cariri. E que agora, ´Mais tarde, mais forte´, como no título da canção, apresenta seu terceiro disco, em shows espalhados pelos núcleos principais da Mostra Sesc Cariri de Cultura.Com a simplicidade e o jeito meio tímido de sempre, Abidoral é uma unanimidade entre os músicos da região. Tanto os colegas compositores, entre eles seus parceiros como Luís Carlos Salatiel, Geraldo Urano e o irmão Pachelly Jamacaru – quanto os instrumentistas que cada vez mais comprovam seu talento e avançam, apesar dos velhos pesares e da distância das capitais, rumo a uma maior profissionalização e à busca de tornar viáveis trabalhos mais autorais. Quem o viu no palco, durante a mostra, pôde intuir sem muito esforço os motivos para tal reverência. Primeiro, claro, pelas melodias sinuosas vestindo letras de escandir apressado, sobre uma grande variedade de ritmos e em meio a harmonias espantosas para o inerente fazer musical de Abidoral, que quando menino achava o Crato ´grande demais´. Que partiu para conhecer o mundo, pagou o preço do sonho de viver de arte e, de volta ao começo, encontrou parceiros e caminhos para tecer sua criação.Também por isso, tardou a revelar seu terceiro disco, 10 anos depois de ´O Peixe´ e 22 anos passados desde ´Avallon´. O novo trabalho chega com o nome de ´Bárbara´, destacando sua parceria com Pachelly em homenagem à mulher cuja ousadia, no dizer de Abidoral, lhe garantiu um lugar na história ´do Cariri, do Ceará e do Brasil´. ´Hoje muito pouco lembrada´, lamentou o compositor, ao mostrar a nova canção terça-feira, no show de lançamento do CD no Sesc Juazeiro do Norte.Bom foi conferir que Abidoral – historicamente, mais compositor que cantor – anda mais desenvolto no palco, soltando a voz, arriscando mais na interpretação. Enfim, parecendo bem à vontade, inclusive com uma sonoridade mais cheia para as canções, que ganharam belos arranjos da mesma banda com quem gravou o disco. No palco, três gerações: o violonista e guitarrista Lifanco, contemporâneo de Abidoral, o tecladista e arranjador Ibbertson Nobre e dois jovens representantes da banda Os Meninos da Casa Grande, de Nova Olinda: Helinho Filho na bateria (alternando-se com Rodrigo) e Aécio Diniz no baixo.Com a sonoridade mais popular resultante dessa reunião, Abidoral passeou pelos discos anteriores e destacou músicas do novo trabalho – como a faixa-título, ´Nada de novo´ e a verborrágica ´Discurso´. ´De tanto não gostar de ouvir discurso, acabei fazendo e musicando um discurso contra o discurso´. ´´Isso é um jogo aberto e eu não trago bandeira. A parte que eu gosto do abismo é a beira´. Mais uma vez, Abidoral se joga para o mundo.Crise na Fecomércio não atingiu a mostraO presidente da Fecomércio, Luiz Gastão Bittencourt, afirmou que as disputas internas na entidade, vivenciadas publicamente nos últimos meses, não interferiram no evento cultural. Após denúncias de supostas irregularidades na aplicação de recursos, Gastão desistiu de sua candidatura à Prefeitura de Fortaleza, para retomar o cargo de presidente da entidade.´Não só a mostra, mas nenhuma atividade do sistema Fecomércio sofreu com isso. O que aconteceu foi efetivamente uma questão política, uma questão de pessoas que queriam desvirtuar o trabalho que vinha sendo feito´, declarou Luiz Gastão ao Caderno 3. ´O meu retorno foi pra consolidar e dar continuidade ao trabalho que vinha sendo feito, para evitar que se usasse esse trabalho, aí sim, de uma forma errônea´, justifica. ´Tanto que a mostra tá aí. Se tivesse algum problema, teria dado esse ano. Fizemos foi dar um ´upgrade´, fizemos foi crescer. Como nessa abertura, com cinco grupos, que você pode até não ver cada um agora, mas você passa por cada um e pode ver depois´.Destacando o impacto positivo da mostra nos setores econômico e social, Gastão avalia que o evento foi responsável, nas 10 edições realizadas até aqui, por conferir maior visibilidade à cultura no Cariri. ´Os grupos vêm do Brasil todo e de diferentes partes do mundo. As oficina que acontecem por conta disso fazem com que se tenha durante esse período uma revisão do que é cultura – não só a nossa, mas as outras. E isso eleva o nosso artista local e os profissionais da área´, enfatiza. ´Esses 10 anos da mostra colaboraram para que diversos novos equipamentos culturais fossem abertos e vieram consolidar uma visão da cultura em toda a região do Cariri. Uma cultura que já existia, que não fomos nós que criamos, mas nós potencializamos essa cultura e abrimos portas pra que muitos grupos daqui pudessem se apresentar em outros lugares do Brasil´.Questionado sobre os recursos empregados na realização de um evento de números superlativos – são 1500 artistas reunidos, vindos de 17 estados e de quatro outros países -, o presidente da Fecomércio aponta um investimento de aproximadamente R$ 1 milhão. ´Isso diretamente. Indiretamente, você não mensura. Temos a cooperação de muitos profissionais que foram formados na mostra. E não me preocupo muito com orçamento. Mas qualquer outra entidade talvez não conseguisse, com R$ 3 milhões, fazer um evento com essa dimensão e essa participação. Essa foi uma conquista desses 10 anos´, acredita. ´Falamos que é o maior evento do Ceará, do Nordeste e talvez do Brasil. Não conheço um evento nacional que tenha a dimensão dessa mostra. Queremos crescer ainda mais e investir na profissionalização do marketing da mostra´.Secult: ´parcerias tímidas´Instado a avaliar o desempenho da atual gestão da Secretaria de Cultura do Governo do Estado, Luiz Gastão diz que a Fecomércio está ´à disposição´ da administração para possíveis ações conjuntas. ´Eu não sou juiz, e acho que quem julga é juiz. O que eu tenho colocado é que nós temos feito nosso papel. A Secretaria de Cultura talvez tenha um olhar, uma forma de andar com as coisas. Eu acho que precisa ter uma ação mais interiorizada, mas são políticas diferentes´, ressalva, reconhecendo que a ex-secretária de Cultura, Cláudia Leitão, aproximou a Secult da Fecomércio. ´Ela tinha sido diretora regional do Senac, tinha uma visão muito próxima de algumas coisas que fazíamos. E isso propiciou que nós tivéssemos uma aproximação´.Segundo Gastão, no atual governo esse quadro mudou. ´Tenho um relacionamento muito bom com o secretário Auto Filho, mas as parcerias com a Secretaria têm sido muito tímidas. Poderiam ser muito maiores. Mas nos estamos à disposição tanto do Auto quanto de qualquer outro secretario municipal´, diz, citando a extensão da mostra, este ano, em Fortaleza.Do Cidadão a um Nordeste azulChegando ao Cariri como uma das atrações musicais mais esperadas nesta décima edição da mostra, o Cidadão Instigado abriu os trabalhos da noite de terça no palco do Crato Tênis Clube. Em fase de transição e de expectativa pelo novo disco, o grupo de Fernando Catatau deu algumas pistas do que vêm por aí, adotando uma sonoridade mais densa em alguns momentos do show e chamando atenção nos espaços para a improvisação, entre as guitarras de Catatau e Régis Damasceno, os teclados de Rian Batista e a bateria de Clayton Martin.Não faltaram também as canções já conhecidas pelo público cativo da banda, de ´Os urubus só pensam em te comer´ a ´O pobre dos dentes de ouro´, no diálogo tão característico do grupo entre universos musicais que vão do rock ao brega, do reggae ao samba, do retrô ao eletrônico. Passando principalmente por uma atmosfera de liberdade criativa e bastante interação entre os músicos, o que se reflete na platéia. Nem a chuva que pela primeira vez desafiou o público nesta edição da mostra conseguiu atrapalhar a festa.Hora e vez, então, de o carioca (ou já quase cearense?) Jefferson Gonçalves retornar à mostra, desta vez com sua banda completa para mostrar o show baseado no disco ´Ar puro´. Calcado no blues de várias vertentes, mas sempre com um pé na riqueza dos ritmos nordestinos , fruto das andanças do gaitista por estados como Ceará e Pernambuco, o show caiu como uma luva para quem queria dançar e curtir a madrugada. Mas também teve momentos mais cadenciados, como quando Jefferson e o fiel escudeiro Kléber Dias na guitarra ´pedem licença´ para mandar um blues enriquecido pela batida do maracatu. A sinceridade e o discernimento dessa conexão Nordeste mais uma vez arrancaram aplausos.
DALWTON MOURA
Diário do Nordeste
Enviado ao Cariri*
14
nov
08

DIA NACIONAL DA ALFABETIZAÇÃO


Hoje rendemos homenagens ao “Dia Nacional da Alfabetização”, tendo sido esse instituído pelo decreto no 59.452, de 3/11/1966, assinado pelo então presidente Castello Branco. Esse dia fora escolhida em homenagem à data do decreto numero 1.9402de 1930, que criou o ministério da Educação e Cultura. Já em 1968, o presidente Costa e Silva assinou o decreto numero 63.326, de 30/9/1968, conservando o dia da comemoração, com algumas alterações.

Não bastasse o dispositivo acima, a nossa Constituição Federal, promulgada em 1988, esclarece em seu artigo 205, que (…)”a educação, direito de todos e dever do Estado, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”(…). Ainda balizado pela Constituição, o legislador estabeleceu que o ensino fundamental é obrigatório e gratuito, inclusive para as pessoas que não foram alfabetizadas na idade própria, visto que o acesso ao ensino obrigatório é direito público subjetivo.

Ainda na esteira constitucional, em especial no inciso VII, parágrafo 2, do artigo 208, preceitua-se que (…)”o não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente”(…). Fica claro então a responsabilidade do Poder Público em dar cumprimento a essa missão tão difícil e delicada, levar a leitura a todos os brasileiros.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), estudo que reúne diferentes indicadores sobre aspectos socioeconômicos do País, referente a 2007, considerando-se como pessoa alfabetizada aquela que responde que sabe ler e escrever pelo menos um bilhete simples no idioma que conhece. Em 2007, havia cerca de 14,1 milhões de analfabetos com 15 anos ou mais no Brasil. Para esse grupo de pessoas, a taxa de analfabetismo foi de 10%, índice menor que o registrado em 2006, de 10,4%.

A taxa de analfabetismo assume diferenças de acordo com fatores como grupo de idade, região e sexo. Em relação à faixa etária, o menor índice fica entre pessoas com 15 e 17 anos (1,7%) e o maior entre os que têm 25 anos ou mais (12,5%).

As regiões Norte e Nordeste registram os índices mais altos de analfabetismo entre pessoas de 15 anos ou mais (10,8% e 19,9%, respectivamente), em contraste com números muito menores das regiões Sul (5,4%) e Sudeste (5,7%).

Ainda entre as pessoas com 15 anos ou mais, a taxa de analfabetismo entre os homens é de 10,2%, porcentagem superior à registrada pelas mulheres (10,1%). Em 2006, os números eram, respectivamente, de 10,6% e 10,1%.

A Pnad mostra que, em 2007, as pessoas com 4 anos ou mais totalizavam 179 milhões de brasileiros. Destes, 56,3 milhões eram estudantes. O número caiu 0,5% em relação a 2006, sobretudo na região Centro-Oeste (2,2%). O grupo etário com maior freqüência escolar (97,6%) é o de pessoas com idade entre 7 e 14 anos. O percentual ficou estável em relação ao de 2006. Entre esse total de 56,3 milhões de estudantes de 4 anos ou mais, 7,9% estavam cursando o ensino pré-escolar, 63% o ensino fundamental e alfabetização; 16,6% o ensino médio e 10,9% o ensino superior. Neste último grau de ensino, o número de estudantes cresceu 4,3%.

Quanto à cobertura segundo a rede de ensino, a rede pública predominou em todas as regiões, registrando percentual de 79,2% de atendimento aos que freqüentavam a escola. (dados mec, ibge e ultimo segundo).

Não resta dúvida que políticas educacionais foram intentadas, algumas com resultados positivos, outras nem tanto. Sem olvidar que a participação de grupos ligados à educação, sem vínculo com o governo, contribuíram e muito para o processo de alfabetização, a exemplo disso podemos citar alguns organismos não governamental (ONG), ou até mesmo o empenho de professores abnegados no interior no nosso pais, que com dedicação e vocação, dedicam boa parte do tempo em contribuir para um pais mais justo e alfabetizado.

O grande problema na divulgação de dados de melhoria educacional apresentado pelo governo é o verdadeiro significado da palavra alfabetizar, isto é, a grande preocupação é ver-se um grande numero de brasileiros matriculados, não importando a qualidade, bem como se esse candidato à leitura esta sendo preparado adequadamente, muitas vezes até sendo “promovido” sem ter nenhuma condição, porém, aumentando as estatística da alfabetização, é como diz o adágio popular, “… é para inglês ver…”

Por fim não poderia encerrar sem mencionar o grande educador Paulo Freire, quando sabiamente diz: “Por isso a alfabetização não pode ser feita de cima para baixo, como uma dádiva ou uma imposição, mas de dentro para fora, pelo próprio analfabeto e apenas com a colaboração do educador”.”Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo; os homens educam-se entre si, mediados pelo mundo”.

14
nov
08

Show da Cantora Fhátima Santos – Hoje, Sexta, em Juazeiro !

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Cantando o melhor da verdadeira MPB, Bossanova, etc…
14
nov
08

Especialistas debatem valor científico do Geopark Araripe


SEMINÁRIO INTERNACIONAL

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Riacho do Meio no Parque Arajara, Crato, é um dos geotopes do Geopark Araripe, área com expressão territorial que reporta à memória da Terra (Foto: CID BARBOSA)

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Governador Cid Gomes abriu a programação do seminário internacional, que acontece até hoje no BNB Passaré, com a participação de autoridades internacionais (Foto: FÁBIO LIMA)

Investimentos em educação nas áreas que integram o Geopark Araripe devem ser meta do Governo do Estado

Fortaleza. O Geopark Araripe é o único parque fossilífero das Américas e do hemisfério sul reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Discutir a importância dessa área para o desenvolvimento da região do Cariri é um dos objetivos do Seminário Internacional sobre Geoparks e Geoturismo, aberto ontem pela manhã no Banco do Nordeste, em Fortaleza. O evento prossegue até hoje à tarde, reunindo especialistas brasileiros e estrangeiros no assunto.

Além disso, o seminário pretende divulgar o programa global de Geoparks da Unesco, criado em 2000, e contribuir para a criação de novos geoparks no Brasil e nas Américas. Atualmente, existem 53 deles em todo o mundo. Com exceção do localizado no Ceará, todos os outros estão na Europa ou na Ásia.

Outro ponto importante é que o evento faz parte da estratégia de sensibilização montada pelo Governo do Estado para a certificação do Geopark Araripe, que terá de ser reconhecida novamente pela Unesco em 2009. Segundo o secretário das Cidades, Joaquim Cartaxo, a maior parte dos especialistas participantes do seminário integra a rede de avaliadores da Unesco.

No próximo ano, conforme Cartaxo, a Secretaria das Cidades disporá de R$ 12,5 milhões para investimentos em infra-estrutura e equipagem do Geopark Araripe. Entre as ações previstas, estão a construção da sede do parque, que funcionará na Universidade Regional do Cariri (Urca), e do Centro de Eventos e Cultura do Cariri, ambos no Crato. Conforme o secretário, a previsão é de que a contratação dos serviços comece em fevereiro próximo.

De acordo com Cartaxo, podem ser implantados novos 33 geoparks no País. Como sede do único atualmente existente, o Ceará tem responsabilidade de contribuir, junto à Unesco, para a formação de uma rede pan-americana de geoparks, e deve receber a 1ª reunião da entidade sobre o tema nas Américas em 2009 ou 2010.

Desenvolvimento

Na abertura do evento, o governador do Estado, Cid Gomes, lembrou que o Geopark Araripe é mais uma oportunidade para desenvolver a região do Cariri e, assim, eliminar a tendência histórica de concentração de riquezas na Região Metropolitana de Fortaleza. Ele acrescentou que o geopark tem valor não apenas local, mas para o Brasil e para as Américas. “Deve ser visto como uma reserva que tem que ser muito bem cuidada”, disse.

O governador reconheceu o problema da venda ilegal de fósseis e pedras da região e disse que, por isso, é preciso associar o potencial natural do geopark à criação de alternativas de renda para a população, evitando a exploração irregular desse patrimônio. Cid Gomes destacou também a construção do Hospital Regional do Cariri, de uma nova estação de passageiros do Aeroporto de Juazeiro do Norte e de novas rodovias como ações que favorecerão o desenvolvimento do geopark.

Na palestra de abertura, a integrante da Rede Global de Geoparks da Unesco e diretora do Geopark Madonie, na Itália, Rosaria Modica, falou sobre a necessidade de investimentos em educação na região onde ficam os geoparks.

Sobre essa questão, a secretária-adjunta de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Teresa Mota, destacou a necessidade de organizar um corpo humano ao Geopark, por meio da capacitação de pesquisadores, professores e instrutores e da população. Uma das ações, tomadas, segundo ela, foi o reforço do mestrado em Bioprospecção, para o estudo das plantas nativas, e a criação do curso de graduação em Turismo, ambos na Urca.

Mais informações:
Secretaria das Cidades
Centro Administrativo Governador Virgílio Távora – Fortaleza
(85).3101.4448
www.cidades.ce.gov.br

ÍCARO JOATHAN
Repórter

O QUE ELES PENSAM
Projeto favorece comunidade

É claro que os geoparks podem conciliar desenvolvimento econômico e social. É incrível o que aconteceu no Cariri nos últimos dois anos, depois do geopark. As pessoas vão lá, visitam o museu, compras coisas, isso gera desenvolvimento.

Gero Hilmer
Professor da Universidade de Hamburgo, Alemanha

Uma característica dos geoparks, mesmo na Europa, é de estarem em regiões pobres, menos desenvolvidas. Ele não é apenas uma classificação ou um patrimônio, mas um projeto de desenvolvimento sustentável. É importante que a comunidade esteja envolvida.

Armindo Jacinto
Dir. do Geopark Naturtejo, Portugal

Todos os projetos em nosso geopark estão dirigidos às comunidades locais e ao turismo. Especialmente as comunidades das escolas participam muito das atividades de informação sobre os geoparks. A educação ambiental é uma maneira de envolver a comunidade.

Rosaria Modica
Diretora do Geopark Madonie, Itália

O geopark é quase um roteiro de visitação. A pessoas visitam e conhecem a história, a evolução geológica daquele local. A população tem a auto-estima valorizada com o desenvolvimento da região. Mas é fundamental investir em educação.

Paulo Boggiani
Professor do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP)

Fonte: Jornal Diário do Nordeste
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