Começa pelo nome próprio, José do Vale Arraes Feitosa, de quem um aluno da Universidade Regional do Cariri fez uma monografia e dela extrai uma homenagem lida no dia de hoje. Para localizar o personagem, passo à palavra a um ex-aluno. Há duas semanas, numa praça do Bairro do Flamengo, próxima ao Largo do Machado, no Rio de Janeiro, passou-me à frente um casal: um homem de aproximadamente 60 anos e uma mulher mais jovem. Enquanto descia do carro estacionado, ele voltou do meio da rua em que ia e se aproximou abordando-me. Estabeleceu-se um diálogo de identidade, ele nascera em Crato, de uma tradicional família da cidade e fora aluno do Professor José do Vale. Pretendi localizar-me no tempo e espaço em relação a ele, mas não era de mim que ele queria saber. Queria falar do seu professor. E falou, olhando para o filho do professor, para a nora dele, para dois netos e até anteviu a bisneta na barriga grávida de sua nora neta. A síntese do aluno: José do Vale estimulava o aluno, nós sentíamos a presença dele na sala de aula antes mesmo dele nela chegar. José do Vale tinha uma energia que seguia à frente dele e a doava para seus alunos.
Então, o professor José do Vale é síntese de trilha: aquele que pode ou deve ser imitado, caminho a seguir, exemplo, modelo. É quando o conceito de trilha e professor se confundem, quando a educação não é mero instrumento de ganhar a vida e sim um sentido teleológico para a civilização. A síntese do professor e da trilha, traduzindo as palavras do seu ex-aluno é o que chamamos carisma. Não o carisma no sentido sobrenatural, que arrasta multidões, mas o carisma no sentido da perfeita consonância entre o professor e o aluno em torno do dever e transcendência do aprendizado. A trilha e o professor se fundem como tradução de filosofia, ideologia, doutrina, religião. E isso José do Vale Arraes Feitosa foi.
Outra síntese da nomeação hoje inaugurada no íntimo do Araripe é aquela que junta professor, trilha e ecologia. Nos sustos que hoje passamos, com o aquecimento global, com o degelo das calotas polares, com os vendavais que tudo destroem, com as secas que levam a fome, a poluição dos mares, dos lagos, do ar, de toda a vida. Mais do que nunca a humanidade inteira precisa de um conceito que seja ao mesmo tempo um aprendizado, uma trilha e que proteja o seu próprio ambiente natural.
Por isso existe, dos bisnetos aos filhos do professor, de sua mulher Maria do Carmo Arraes Feitosa e da filha Diana Maria Arraes Feitosa, neste dia de homenagem, o sentido que aquele professor foi do mundo. Mas foi de um mundo nominado. Um mundo ao mesmo tempo universal e local. Um mundo que se chamava sua amada Crato, sua imensa e geográfica Chapada do Araripe, seu Cariri inteiro. Quando todos os filhos se foram, se tornaram anúncio de visita ou a trilha de um avião a jato sobrevoando a bacia verde do vale do Cariri, o professor aqui ficou para sempre.