Arquivo para 21 de agosto de 2007

21
ago
07

Uma oração sumério-acadiana

Mesopotâmia é uma palavra grega que significa “localizada entre dois rios”. Mas o seu verdadeiro significado é o geográfico. Uma grande planície que recebe diversos rios nascidos nos monte Zagros a nordeste e Pôntico a norte e nos planaltos da Anatólia e da Armênia. Lá nasceram civilizações tão remotas, verdadeiras incubadoras da própria noção de civilização. A mesopotâmia forma, junto com o vale do Nilo e o do Indo, as mais remotas civilizações que formaram impérios em bacias hidrográficas. A civilização chinesa um pouco depois, igualmente fundadora e antiga, entre os rios amarelo e azul.

Pronto, nestes vales se encontra a matriz de todo pensamento a Oriente e Ocidente que forma a base dos nossos modos atuais de entender e explicar o mundo. Apenas para exemplificar. Na Mesopotâmia existem os mais antigos sinais de fundação da agricultura, a sua geografia permitia duas experiências agrícolas extremas: ao norte, na região de montes e planícies, a agricultura era sazonal pelo regime das chuvas e na mesopotâmia do sul, de pântanos e planícies largas, lisas e estéries, a agricultura era de irrigação ao longo da calha dos rios. No período primitivo as vilas iam da Palestina até os Montes Zagros.
Algumas das contribuições da Mesopotâmia: a roda, vidro, o sal, cunhagem de moedas, matemática, o alfabeto, calendários, bronze, ferro, monoteísmo, poesia épica, cultivo e irrigação. Seus povos fundadores de cultura e civilizações: Sumerianos, Acadianos, Caldeus, os Hititas, Babilônios, Israelitas, Fenícios, Lídios, Hurritas, Mitani, Urartu, Assírios e os Persas.
Seus valores culturais: arte da Mesopotâmia é tão diversa quanto as civilizações que habitaram a área. A arte tornou-se decorativa, estilizada e convencional. Os deuses eram seres humanos combinados com os animais, criaturas fantásticas. A arte comemorou as realizações de grandes homens. Os grandes templos e os palácios imponentes pontilharam a paisagem. A edificação mais importante foram os Zigurates. O homem gravou suas histórias e a poesia pela primeira vez e ajustou-os à música. Liras, instrumentos de sopro, harpas e os cilindros de percussão acompanharam suas canções e danças.
No mundo politeísta, o esforço de tradução da escrita cuneiforme sumeriana descobriu tesouros da cultura mundial. Uma das orações mais fantásticas foi a desenvolvida para cada deus. É uma obra prima do abraço ao mundo. Quem a pratica espalha o tiro com milhares de chumbo. Quer resolver qualquer pecado, para qualquer deus ou deusa conhecidos e até os desconhecidos a quem tenha ofendido. Quer o perdão para todo e qualquer pecado que inclusive ele desconheça que pecado o seja. Quer que o deus e a deusa saibam das fraquezas humana e leve isso em consideração. Quer Afinal se despir de seus pecados como se despe de uma roupa.
É possível que nenhuma civilização lá no fundo dos tempos ou nos trás-os-montes do distante futuro, jamais venha a criar uma oração aos deuses e deusas tão perfeita para modernidade como fizeram os Sumérios. Vejam como é perfeita para o Governo Bush e o atoleiro em que submeteu Iraquianos e Americanos.

para cada deus

Que a fúria do coração do meu senhor aquiete-se para mim.

Que o deus desconhecido aquiete-se para mim;
Que a deusa desconhecida aquiete-se para mim.

Que o deus conhecido e o desconhecido aquiete-se para mim;
Que a deusa conhecida e a desconhecida aquiete-se para mim,
Que o coração de meu deus aquiete-se para mim;
Que o coração de minha deusa aquiete-se para mim.

Que meu deus e deusa aquietem-se para mim.

Que o deus que ficou zangado comigo aquiete-se para mim,
Que a deusa que ficou zangada comigo aquiete-se para mim.

Na minha ignorância, comi o que foi proibido pelo meu deus;
Na minha ignorância, pus os pés naquilo proibido por meu deus.

Ó senhor, minhas transgressões são muitas; grandes são meus pecados.

Ó meu deus, minhas transgressões são muitas; grandes são meus pecados.

Ó minha deusa, minhas transgressões são muitas; grandes são meus pecados.

Ó deus que eu conheço ou não conheço, minhas transgressões são muitas; grandes são meus pecados;
Ó deusa que eu conheço ou não conheço, minhas transgressões são muitas; grandes são meus pecados;
A transgressão que tenho cometido, de fato não sei;
O pecado que tenho realizado, de fato não sei.

A coisa proibida que eu tenha comido, de fato não sei;
O lugar proibido em que eu pus o pé, de fato não sei;
O senhor com cólera em seu coração, olhou-me;
O deus com fúria em seu coração confrontou-me;
Quando a deusa estava com raiva de mim, tornou-me doente.

O deus quem eu conheço ou não conheço, tem-me oprimido;
A deusas que eu conheço ou não conheço, colocou o sofrimento sobre mim.

Embora eu esteja constantemente procurando ajuda, não me pega a mão;
Quando eu choro eles não vêm ao meu lado.

Eu pronuncio lamentos, mas ninguém me ouve;
Eu tenho problemas; sou oprimido, eu não posso ver.

Ó meu deus, o misericordioso, eu dirijo-me ao ti ao orar, sempre se incline para mim;
Eu beijo os pés da minha deusa, rastejo ante ti.

Quanto tempo, ó minha deusa, que eu conheço ou não conheço, observo que teu coração hostil será aquietado?

O homem é idiota; ele não sabe nada;
Humanidade, tudo que existe porque ele conhece?
Se está cometendo pecando ou fazendo o bem, ele não sabe mesmo.

0 meu senhor, não lance teu empregado para baixo;
Ele afunda nas águas de um pântano, tire-o pela mão.

O pecado que pratiquei, gira em torno da deusa;
A transgressão que eu cometi, deixe o vento levar;
Minhas inúmeras más ações, dispo-as feito roupas.

Ó meu deus, minhas transgressões são sete vezes sete; remova minhas transgressões,
Ó minha deusa minhas transgressões são sete vezes sete; remova minhas transgressões;
Ó deus que eu conheço ou não conheço, minhas transgressões são sete vezes sete; remova-as;
Ó deusa que eu conheço ou não conheço, minhas transgressões são sete vezes sete; remova-as.

Remova minhas transgressões e eu cantarei em teu louvor.

Que teu coração, como o coração de uma mãe real, aquiete-se para mim;
Como uma mãe real e um pai real pode ele aquietar-se para mim.

Tradução por Ferris J. Stephens, nos textos orientais próximos antigos (Princeton, 1950), PP. 391-2; reimpresso em Isaac Mendelsohn (ed.), religiões do oriente próximo antigo , biblioteca da série do paperbook da religião (York novo, X 1955 PP. 175-,7).

21
ago
07

Folclore, por Dênisson Padilha Filho

Falar de Folclore é sempre uma missão difícil.Por alguns instantes hesitei em não lavrar estas linhas, confesso, por achar que é um assunto que se adequa muito mais a ser tratado em texto corpulentos, resenhas, ensaios do que em simples matérias breves.

Ora, porque tanto mistério acerca de tão óbvio assunto? Folclore, diriam, nada mais é do que Saci, Mula-sem-cabeça, Caipora; não é isso? NÃO!! Não é isso. Aliás, que bom seria se só fosse isso.

Hoje, na verdade, enquanto todos os setores supostamente ligados a Cultura se ocupam tão somente de relembrar e legar às suas crianças e adolescentes as versões adulteradas ou capengas, repetindo lendas de forma superficial e, diga-se de passagem, em tom jocoso, esses nossos jovens seguem claudicando e com os olhos enevoados ante uma estrada que para eles é desconhecida e que para nossa maior aflição, nada mais é do que a nossa desconhecida identidade cultural nacional.

Costumo sempre falar, atentando, é claro, em fazê-lo, em foro apropriado, que o Dia do Folclore é um mal necessário. Sim, porque viver nossa identidade, nossa memória, nossa ancestralidade jamais pode ser um fato específico de um dia perdido no calendário. É de causar consternação, só pensar que os nossos saberes, falares e fazeres estão agrilhoados em apenas um dia do ano. Nossa identidade virou peça de museu em favor de uma cultura e um modus vivendi americanizado. Hiberna em berço esplêndido o orgulho nacional. Para o meu maior penar.

O que se propõe, entretanto, não é que se cultue a três por quatro os traços identitários nacionais através de se vivenciar nosso fabulário, nosso rosário de entes mitológicos;não, absolutamente não é isso. Até porque este que vos lavra é suficientemente iconoclasta para não pautar-se em discursos de adoração;mesmo porque não creio que seja esta uma condição sine qua non para a salvação.

O que talvez seja mais fácil dizer é que, se é risível se crer na existência desses entes de alma e cor nacional, não menos risível e ridículo é crer e considerar a importante coexistência conosco de fadas e duendes da Europa Nórdica, por exemplo.

A essência de toda essa prosa acerca de tão famigerada data – leia-se isso assim, como uma data/instituição criada há muito e engordada no seio dos Centros Cívicos; marca registrada dos anos cinzentos de ditadura militar – é que não aceitar tradições ou olhá-las de viés, em soslaio de menosprezo é típico de nações atrasadas. Nações de povos sem noção.

Darcy Ribeiro disse que o Brasil é uma pátria adolescente. E como todo adolescente, tem vergonha da avó que é índia e do pai que é preto. Nunca encontrei colocação boa à altura para definir esta primeira fase dessa pátria. Frouxidão moral, assistencialismo passivo e ativo, guerras fratricidas? Tanto quanto, típicos de nações atrasadas. E rir-se, gaitar feito Caipora, enxovalhar de sua ancestralidade? Típico de nações atrasadas. Nações que tem em sua memória mais recente tão somente rumores de uma sociedade pretérita que olhou pra essa terra somente como um lugar em que “em se plantando tudo dá”. Não houve o exercício do amor pela terra naquelas quadras do tempo. Houve o exercício sim, da locupletação progressiva, acintosa e aviltante. Ficou nas plagas d’além mar a maior parte da honrosa Rude Cavalaria da D. Sebastião. Os poucos que aqui chegaram legaram aos seus herdeiros encourados uma condição mordaz, peculiar do heroísmo anônimo. E esses mais ainda se calaram, obstinados no seu exercício de furar caatingas.

Ainda espero, mesmo que seja na pele de minha vindoura descendência em 27º grau, ver brotar uma nação propriamente dita. E ali sim, naquele tempo, abstrair a desmemória na vida do brasileiro.

Tomaria fôlego pra mais 500 anos…

DÊNISSON PADILHA FILHO (1971) é escritor, poeta, contista e roteirista. Autor dos livros Gavihomem (Art Compet Editora, 1998), Aboios Celestes (Selo Bahia, Funceb, 1999) e Carmina e os Vaqueiros do Pequi (Santa Luzia Editora, 2002). Co-autor do roteiro do curta-metragem Na Terra do Sol (MINC, 2005), dirigido pelo cineasta Lula Oliveira. Também escreveu os ainda inéditos Epístolas ao Tempo (romance), Loquazes Gostamentos (poemas), Calumbi (curta-metragem/cinema) e O Jokerman sentado na pedra fria (curta-metragem/vídeo). Mais sobre o autor.

21
ago
07

POTOCAS – Rolando Lero – Marechal RonRon… rs rs

Para relembrar esse quadro incrível da escolinha do Prof. Raimundo:
Vale a pena ver…

21
ago
07

Foto-vídeo reportagem do 35o. Festival de Cinema de Gramado!


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